O que é, mesmo, a coragem? Há quem a considere uma virtude. Mas não uma virtudezinha dessas de que nós, comuns mortais, somos capazes, como a iniciativa, a agilidade, a praticidade. Nada disso! Coragem nos remete a outro patamar. É uma virtude dos deuses, daquelas heroicas e épicas. Leva-nos a imaginar, também, que uns poucos de nosso gênero a cultivaram a ponto de deixar indeléveis marcas na história, entre os quais dois que mereceram a qualificação de “grandes”: Alexandre, da Macedônia, e Frederico, da Prússia. No caso deles, o adjetivo até completa o nome, pois a coragem proporciona tal extensão. Sempre vem no bojo de lendas e sagas, força e resiliência, vitórias e conquistas.
Se você pensa na coragem como uma virtude, inescapavelmente resvalará para o Olimpo e seus deuses – como Zeus e Apolo – e semideuses ou ao mausoléu dos heróis de carne e osso, com seus lendários audazes.
Coragem tem também uma relação direta com o medo, ou melhor, com a ausência dele. Aí, então, entregamos os pontos: não é mesmo para nós, reles mortais. Mas então a coragem, pensada como virtude, passa para o nível da atitude, ou seja, a do destemor. Só que ser destemido é diferente de ser corajoso. Mesmo assim, ainda não vamos entregar os pontos.
Tudo muda de figura, no entanto, se você pensa na coragem como um estado de espírito. É algo que pode eventualmente acontecer e, por sorte, o espírito está posto. Considere estado de espírito aquele momento ou situação de energia gerada por uma “disposição para” e “uma decisão de”. Explico.
Disposição para o quê? Para algo ou alguém. E capaz de produzir em nós uma força emocional e psíquica. Decisão de quê? De fazer algo com elevado significado na vida – a sua ou a de outras pessoas.
Ao compreender a coragem como um estado de espírito, nós nos reconhecemos como corajosos (ufa!). Mais que isso: examinando o passado, revisitamos as nossas histórias de coragem e atrevimento, e identificamos quando e em quais circunstâncias esse estado de espírito esteve presente. E o que sabemos em seguida é história: quando a coragem se manifestou, ativada por determinado estado de espírito, a nossa vida mudou de curso, sem voltar a ser a mesma. Nós, também, nunca mais fomos os mesmos. Para nossa justificada alegria. Somos bem capazes de tal feito. Lembre-se: por sorte, o espírito está posto!