Você enxerga o que existe além de uma chave?

Do “aqui” e “acolá” é o título de um dos capítulos do livro “O Velho e o Menino”. Talvez não instigue muito a curiosidade do leitor não habituado ao conceito que sustenta esse tema fundamental. Sinto a necessidade de aprofundar a questão um pouco mais, a partir de um objeto muito conhecido por todos nós: a chave.

Olhada de relance, é apenas um utensílio de metal que se introduz na fechadura para abrir uma porta. Não passa disso, no “aqui”. Costumamos esquecê-la no chaveiro, para lembrar de sua existência apenas quando for necessária.

Preste atenção, no entanto, e será capaz de enxergar, no brilho que emana sob qualquer luz, uma série de significados. Sua forma nos sugere cabos, cimento, madeira, aço, vigas, recipientes repletos de argamassa. Ainda estamos no “aqui”, mas já conseguimos enxergar um pouco mais do visível e podemos ir além.

Uma chave representa um conjunto de itens isoladamente inertes, não fossem os pedreiros, os carpinteiros, os mestres e os engenheiros a contribuir para lhes dar movimento, forma e ampla utilidade. Pessoas, enfim, que nada fariam com os materiais com que trabalham, não fossem seus conhecimentos e habilidades, o que, por sua vez garante o uso à luz da técnica e da lógica.

Examine-a com carinho, toque-a com os dedos, suavemente, para sentir sua textura. Deixe que se transforme de objeto em sujeito e vai descobrir nela um novo significado. E o que representa agora? Uma história de vidas muito além do “aqui”.

Examinando com cuidado, a chave guarda também o estético, o lúdico e o belo. Os trabalhadores envolvidos são, portanto, artistas das coisas e das ideias, da ciência e da arte, da pá e do pincel. Do aqui e do acolá, portanto.

A porta que ela abre escancara a alegria do sonho transformado em realidade. O novo lar, enfim, espaço aberto para o abrigo do convívio, do aconchego, do afeto, do amor e do testemunho de tantos romances, conversas, encontros e divertimentos.

Se tivermos olhos de ver, percebemos que uma simples chave pode nos oferecer um mundo repleto de “acolá” capaz de tornar todos os “aqui” mais suportáveis.

Por mais que persigamos o “aqui”, ele não se resolve sem a sublime ajuda do “acolá”. Vale para os negócios, o trabalho e a vida. Ouse fazer a trajetória e notará como abre perspectivas nunca dantes imaginadas!

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