Você é aquilo que come

Aprendi na Clínica Adventista: “você é aquilo que come.” Tudo o que colocamos para dentro define tanto a nossa preferência, como o apetite e a qualidade de vida. Há quem aprecie uma boa salada e quem não dispense uma picanha mal passada. É certo que os desdobramentos de cada uma dessas alternativas são muito diferentes para a digestão e a saúde.

Podemos estender o ensinamento adventista para outras áreas da vida, pois não comemos apenas alimentos. Devoramos também notícias, informações, conhecimentos. Há quem absorva o noticiário todos os dias. Um tipo de comida indigesta. A imprensa parece ter uma lógica própria ao realçar, de preferência, as notícias ruins. Dificilmente registra algo como: “empresários se unem em prol da sustentabilidade e investem bilhões de reais na reconstrução do planeta”. Geralmente, as manchetes destacam: “empresários oferecem propinas para políticos em troca de favorecimentos aos seus negócios”. E há quem se empanturre disso cotidianamente. Comida estragada. Existem empresários empenhados em fazer o bem; estão por ai, mas sem registro. Como se fossem pratos totalmente fora do cardápio. Invisíveis. Não podem ser devorados como seus pares metidos em falcatruas. Bons pratos, mas indisponíveis. Para saber quem são e onde se encontram é preciso procurá-los.

Somos o que comemos, lemos e aprendemos. Antropofagia é um ato ritual de comer uma ou várias partes de um ser humano. Os povos que a praticavam estavam certos de que iriam adquirir as qualidades das pessoas que comiam. Diferente do canibalismo, a antropofagia era um ritual de respeito e reverência.

Leitores ávidos são antropófagos contumazes. Engolem  avidamente os autores que amam. É como se, ao absorver a obra pudessem torná-la – e também o escritor – parte de si mesmos, passando a viver em seu interior. É um ritual de amor. Podemos comer Paulo Coelho ou Adélia Prado, Mia Couto ou Manoel de Barros. Cada um escolhe quem deseja incorporar.

Alimentos, informações, conhecimentos. Nutrir-se é uma decisão eminentemente pessoal. Da mesma forma que a escolha do mundo em que se deseja viver. Você é aquilo que come.

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