Quando elas “saíram no braço”, foi um assombro. Alucinadas, trocavam sopapos. E incontroláveis agressões verbais. As pessoas ao redor não acreditavam no que estava diante de seus olhos. Uma cena medonha, aquela briga entre duas mulheres. Absurda em si, era ainda mais inescrupulosa, considerando-se que ambas estavam em um ambiente de trabalho, acostumado a receber clientes. Pior, ainda: patética, ali onde a serenidade é um valor crucial. E espantosa, para todos aqueles que, atônitos e paralisados, observavam o embate, sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Será que a raiva é tão desmedida e repentina desse jeito, a ponto de burlar, sem meias medidas, a dignidade de um lugar e das pessoas ao redor? Será essa uma força tão grande a ponto de tornar-se incontrolável?
Sim, a raiva reside em cada um de nós, naquele pedaço de cérebro reptiliano. É dali que ela se expressa, junto com seu irmão mais velho, o medo. E é acionada quando nos sentimos ameaçados. O fato de não podermos nos livrar dele, o cérebro réptil, não nos dá o direito de deixá-lo solto, como se fosse um cão pitbull sem focinheira, vivendo os seus repentes e disparates. Pois ali vive nosso instinto animal e irracional.
Mas somos seres humanos. Dotados de muitos outros recursos, como por exemplo outra parte do mesmo órgão, denominada de neocórtex, também conhecida como “novo cérebro”, uma exclusividade nossa. É onde se encontram o raciocínio lógico, a linguagem, e o reconhecimento dos símbolos, da mensagem, dos sinais.
Sobre todos, está a consciência. Para alguns, é o quarto cérebro (o neocórtex seria o terceiro, depois do límbico e do reptiliano). Mas sem nenhuma intenção de discorrer sobre a neurofisiologia, o que nos interessa é realçar a importância de ser e agir como humanos que somos.
Viver com consciência é mais do que limitar-se a reagir. Vai muito além da lamentável prática do “bateu, levou” ou do “olho por olho, dente por dente”. E supera, também, o simples sobreviver de quem está sempre assustado, preso a uma zona de conforto ilusória, entregue à falsa felicidade por optar pela omissão como filosofia. Do tipo “um boi para não entrar em uma briga e uma boiada para ficar fora dela”. Nada disso é humano, na acepção da palavra.
Ser humano implica magnanimidade. Magnânimo é aquele que possui uma grande (magnus) alma (anima). É assim que somos imagem e semelhança de Deus. Capazes de viver a paz e a serenidade, dotados dos dons do amor e da compaixão, valores que mais nos aproximam do Criador.
“Olho por olho, dente por dente, e no final estaremos todos cegos”. Estas são palavras de uma grande alma, o líder espiritual Mahatma Gandhi.
Para nós, humanos, mais que um dever, ser magnânimos é uma gratificante obrigação.