Eu conheço e você também, acredito: gente que gosta de problemas. Não consegue viver sem eles. Claro que existem e fazem parte de nossas vivências. Mas não estou me referindo aos verdadeiros, sobre os quais nada podemos fazer, exceto lidar com eles, de preferência com disposição e discernimento. Refiro-me a inventar os desnecessários que tornam um inferno a própria vida e também a dos que estão ao redor.
Para os criadores de problemas, viver sem eles é muito difícil. Humanamente impossível. E sabe por quê? Porque não concebem nada melhor para colocar no lugar desses percalços inventados. Funcionam como uma distração, uma forma, mesmo infeliz, de passar o tempo. É um tipo de ocupação com alguma adrenalina, sem a qual a vida lhes parece insossa. Mas basta que um seja resolvido para que surja outro. E assim sucessivamente. Uma tristeza sem fim.
Sem essa vida periférica movida a problemas, o indivíduo vai ter de se deparar consigo mesmo, ou seja, com o próprio vazio. Em seu centro não há nada, por isso, tanto melhor despender tempo e energia com superficialidades, repletas de dificuldades criadas em interminável sequência.
Deparar-se com o centro vazio é angustiante, no primeiro momento. Sempre que isso acontece, a tendência é buscar alívio para a dor. E esse alívio está na periferia da vida, onde os problemas se multiplicam à semelhança de ervas daninhas. Ou seja: as pessoas preferem ser infelizes a enfrentar a realidade de seu próprio vazio.
Todas as vezes em que tentam fazer contato com o seu centro, elas sentem medo. O vazio amedronta, de fato. É como um mergulho ao fundo do mar. Lá, a calma e o silêncio parecem ser insuportáveis e o ímpeto é retornar logo à superfície, mesmo com todas tormentas que nela existem.
O problema dos problemas é que essa vida infértil afeta outras, também vazias, gerando um cortejo humano trágico, capaz de gerar a impressão de que a vida é assim mesmo: uma sequência interminável de problemas.
Ocupadas com esse martírio, as pessoas não conseguem preencher o seu centro com algo que possa tornar a vida mais fecunda: um propósito. Somente um propósito pode transformar o “ter algo para fazer” em “fazer algo que valha a pena”.
Fazer algo que valha verdadeiramente a pena é que torna a vida uma aventura fértil, como ensina o Velho Taful, personagem do meu mais recente livro. E essa aventura fértil é também contagiante… instiga e revigora, ensina e fortalece. Isenta de sofrimentos desnecessários. A ela, portanto, com todo entusiasmo!