O ser humano sempre busca o êxtase, aquele estado de arrebatamento e encantamento diante da vida. Quem não o deseja? Quem não gosta de se maravilhar diante da existência e de seus mistérios? Quem não almeja viver a perfeita alegria? Essa procura é tão fundamental, que vez ou outra – até mesmo pelo próprio entusiasmo que desperta – perdemos de vista o caminho e enveredamos por um atalho errado.
Ao fazer esse involuntário desvio, somos capazes de nos sentir enaltecidos, embevecidos e orgulhosos de nós mesmos e de nossos feitos. Mas esses são os sentimentos do mundo. Lembram um pouco a sensação daquele estado de contentamento. Mas não passam de pura ilusão e, como toda ilusão, embotam a vista e não nos deixam perceber que o atalho não é o caminho. Com a vista enevoada, persistimos no atalho, cada vez mais distantes do caminho. Até perdê-lo de vista. É quando passamos a acreditar que o atalho é o caminho.
Existem os sentimentos do mundo e os sentimentos da alma. Os primeiros são feitos de aplausos, elogios, apreciação. A sociedade sabe como exercer controle sobre nós. Os sentimentos do mundo são aqueles que nos inundam quando ganhamos alguma competição ou discussão, quando atingimos o pódio e nos sentimos vencedores. Pense nos momentos em que está exercendo o poder, no papel de chefe, e que todo mundo se sente compelido a rir de suas piadas sem graça, justamente por estar diante da pessoa que fica lá em cima, na caixinha superior do organograma. Tudo isso é sentimento do mundo!
A vitória e o sucesso nos embriagam de sentimentos do mundo. Estes, aliás, foram inventados para nos controlar. Geram uma falsa alegria, uma excitação que nada tem a ver com felicidade. Ao final, resta o vazio e a ansiedade. E a tremenda carência que nos leva a tentar sentir a mesma coisa novamente, como a água que não sacia a sede.
Os sentimentos da alma são de outra natureza. Estão relacionados ao trabalho em si, não ao que vamos ganhar com ele. Têm a ver com os momentos de amizade e de confiança mútua na companhia dos que dividem o trabalho com você. E com os momentos de intimidade e cumplicidade ao lado das pessoas com as quais convive. Ou seja, referem-se aos espaços onde viceja a apreciação mútua, o choro compartilhado, o riso franco e aberto, a boa folia. Esses são os sentimentos da alma.
O sentimento da alma é natural. Não carece de estímulos de fora. É intrínseco ao ser humano. É um dom. São esses que os devotos experimentam.
Pense em sua própria vida. Quais os sentimentos que mais provocam a sensação de plenitude em você? Quais os sentimentos que conduzem sua vida?
O final do ano está próximo! Faço o convite para, juntos, refletirmos a respeito do tipo de travessia que estamos fazendo. É o caminho certo ou nos inebriamos com o canto de cisne do sucesso?