Usamos muitos recursos e energias para administrar a nossa parte na sociedade. Questionamos o poder e o papel do Estado, apostamos na dinâmica do mercado, lemos e ouvimos sobre o equilíbrio fiscal e a gestão das contas públicas, o dilema entre arrecadar e conter os gastos e assim seguimos, conforme o ponto de vista individual, oscilando ora de um lado ora de outro.
Utilizamos, também, nossos recursos e energias para avaliarmos a segurança pública, a violência cada vez mais explicita, o crescimento das milícias e aqui, da mesma forma, o ponto de vista pessoal hesita entre a punição implacável e a educação corretiva.
Por falar em educação, é nesse campo que lançamos mão de nossa massa crítica para pensar no papel efetivo de criar uma cultura social, de fortalecer a ciência com suas técnicas para enriquecer a vida coletiva e a sua direção, apoiadas por uns e reprovadas por outros, dependendo também dos múltiplos pontos de vista.
Na política não é diferente, quando alternamos o nosso olhar ora conservador ou liberal, ora progressista ou humanitário, misturando um e outro. São pontos de vista que se alternam conforme o tema nos afete mais ou menos diretamente.
Economia, ecologia, política, segurança pública, negócios, cultura, arte, religião, guerras, tudo passa pelo crivo do ponto de vista individual.
Se você perguntar o que é uma pessoa, a resposta-síntese é: um ponto de vista. Daí não ser tarefa fácil viver em um planeta com oito bilhões de pontos de vista, um diferente do outro.
Enquanto examino o noticiário, é difícil ler uma manchete que não remeta a algum tipo de conflito e o mesmo se nota nas colunas de jornalistas e comentaristas. “Não é que ele está certo?” exclamo, ao examinar o ponto de vista do articulista, para logo dizer o mesmo quanto ao que diz um outro, oponente daquele que havia acabado de ler.
Todos estão meio certos e meio errados, mas de tudo fica um desafio salutar a respeito do qual todos deveríamos nos empenhar: o de fazer uso dos nossos recursos e energias para, ao menos, de boa aceitação e vontade, nos dedicarmos a compreender os pontos de vista alheios.
Se nos empenharmos ao menos em tentar compreender, tal atitude será, por si só, um gesto de elegância que exprime atenção e interesse. Em que pesem os vários pontos de vista, reconheceremos que, no fundo, todos somos vulneráveis, ávidos por amor e intimidade, empenhados em restaurar nossas energias, com mais perguntas do que respostas e – como dizia Nietzsche – humanos, demasiadamente humanos.
É quando o Amor, sobre todos dilemas e conflitos, ocupa o seu lugar, a fim de que todo o universo viva em conexão.
Vivencie e constate.