Parece que o mundo se especializou na falta. Veja os médicos: tratam mais da doença do que da saúde. Os advogados: tratam mais do crime do que da ética. Talvez porque acreditem que a doença é o oposto da saúde e o crime é o oposto da ética. E que, ao aprender sobre a doença ou o crime, se aprende, também, o que é saúde, ética e aptidão. Mas são coisas diferentes, de maneira que a lição é sempre enviesada e incompleta. A parte vazia do copo não ensina como se faz para enchê-lo.
Lido com empresas há quase trinta anos. Descobri que aprender sobre como as empresas fracassam não ajuda muito a compreender como as empresas prosperam.
Estudar clientes insatisfeitos não contribui para melhorar a satisfação dos clientes satisfeitos. Cada um desses grupos é bem distinto do outro, porque suas necessidades são diferentes.
Na empresa, os líderes estão muito mais focados nos erros, do que nos acertos. Como se os primeiros fossem inadmissíveis e, os segundos, nada menos que obrigações. Constate: erros dão mais assunto do que acertos.
Com isso, os funcionários aprendem muito sobre os erros e como eles funcionam, mas continuam sem saber por que e como fazer o certo. Tornam-se especialistas em erros e impotência (o que não podem), em vez de conhecer sobre a potência (o que podem).
Potenciais humanos não são assuntos do dia-a-dia. Um líder desacorçoado poderá dizer: “Mas cadê esses potenciais? Onde eles estão, que nunca se expressam? É só ver os resultados: não demonstram que tem talento de sobra por aqui.”
Oras! Não é de estranhar… afinal, toda a sua atenção está viciada em captar erros, perceber defeitos, identificar disfunções, prever anomalias. Se algo inusitado, extravagante e inovador aparecesse na sua frente, seria incapaz de notar. Mesmo que fosse a salvação da lavoura!
Líderes também fazem parte desse mundo da parte vazia do copo.
Como o potencial não é visível a olho nu, todas as afirmações sobre potencial são baseadas no que é visível: o comportamento. Este é o indicador a partir do qual inferimos potenciais alheios. Portanto, é sempre uma previsão e expectativa baseada no que essa pessoa diz ou faz.
Chegamos, portanto, no ponto. Os indicadores que usamos para avaliar as pessoas são apenas a ponta de um iceberg, enquanto a parte submersa é o potencial.
Se um líder é capaz de captar esse potencial, também será capaz de captar a riqueza que isso pode gerar.
Uma maneira de fazer isso é substituir medidores e indicadores, que realçam a parte vazia e inibem a expressão dos potenciais, por medidores e indicadores que realçam e valorizam as potencialidades. Também é possível temperar a pauta das reuniões com temas voltados à produção de idéias e ao exercício da criatividade. Incentivar a participação das pessoas diretamente envolvidas nos processos de trabalho, apoiando e reforçando suas opiniões e ideias. Investir no aprendizado de líderes, para que possam conhecer mais sobre a natureza humana e como ela funciona. Esta é, definitiva, inadiável e urgentemente a mais sábia das decisões.
Coragem! Escolha este caminho. Pode parecer arriscado, mas, acredite, será o melhor para todos e, claro, para a vida saudável da empresa.