Sem segundas intenções

Não sei de quem mais eu me compadeço, se da Nilda ou da Geralda. A Nilda deve às Lojas Marisa. A última mensagem que ela recebeu me deixou estremecido. Diz assim “vosso silêncio será interpretado na forma da lei nos termos do artigo 111 do código civil”. Senti um frio na espinha. Do que trata esse artigo, meu Deus? E o que farão com a moça? Não a conheço, mas comecei a gostar dela há algum tempo. Se é cliente das Lojas Marisa, deve se preocupar com a aparência, querendo, como todas as mulheres, viver a sua vaidade tão feminina. E isso não tem preço!

Será bonita ou feia? Alta ou baixa? Gorda ou magra? Não importa! Tudo o que a Nilda deseja é ser melhor, bem atraente, chamar mais atenção. Em troca, o que recebe é um tal de artigo 111 em seu encalço. Mas as ameaças vieram antes: “Nilda, seu débito referente ao cartão Marisa poderá causar bloqueios no comércio e restritivos bancários”. Quem pode dormir em sossego, depois de receber um aviso desses? Afinal, o que ela desejava era ficar mais bonita, quem não quer? Mas, sob ameaça, ninguém merece.

E dizer que tudo começou com uma advertência: “Nilda, pague seu débito às Lojas Marisa e limpe seu nome no mercado. Evite constrangimentos. Volte às compras. ” Era até simpático, agradável e convidativo, no canto dos cisnes do “volte às compras”, para tudo acabar no artigo 111. Não era, portanto, um convite sincero, mas com segundas intenções.

Já o caso da Geralda me parece mais preocupante. Pelo nome, imagino ser uma senhora, Dona Geralda. E dessa vez foi na loja Magazine Luíza. Não me parece que sua compra tenha a ver com a vaidade feminina, mas com o amor de mãe que deseja o melhor para seus filhos. Um pouco mais de conforto e de alegria para compensar a lida bruta e os dias cinzentos. As boas intenções maternas. O resto é muito parecido, a começar pela advertência com segundas intenções, depois avança para a ameaça e, finalmente, invoca o fulminante artigo 111.

Do que será que trata esse artigo 111? Duvido que Nilda ou Geralda saibam algo de leis. Mas também duvido que as lojas Marisa e Magazine Luíza saibam alguma coisa sobre invasão de telefones alheios, mas, mesmo avisadas, não há quem as faça corrigir tal procedimento.

O fato é que tenho gradativa afeição por elas, a cada mensagem recebida. Não vejo a hora de que sejam cortesmente convidadas às compras. Sem segundas intenções.

 

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