O atual embate entre saúde versus economia, nesse tempo de pandemia, me faz lembrar da velha anedota em que o ladrão de calçada aborda um transeunte e diz:
– A bolsa ou a vida.
Responde a vítima:
– Leve a vida, porque eu preciso do dinheiro para sobreviver.
Que bem me recorde, o combinado é para que todos tenham vida e em abundância. Acontece que a economia ocupou o epicentro da existência e, embora tenha sido criada para ser meio, transformou-se em fim. Tudo gira a seu redor: a política, a ciência, a religião, a justiça, a cultura, a arte. Se não render, não conta.
Com a economia no epicentro da existência, o mundo virou um lugar inóspito habitado por pobres de verdade e ricos de mentira. Quem não vive a miséria material, vive outros tipos de miséria.
Constate como a felicidade está no pronto socorro. Os remédios mais vendidos são os antidepressivos – lexotan, fluoxetina, rivotril, frontal e prozac – para combater o estresse e a tristeza; antiulcerosos para controlar na marra a pressão e o medo e os redutores de colesterol, para debelar os danosos efeitos da alimentação excessiva e inadequada.
Parafraseando Stephen Covey, é muita gente subindo a escada do sucesso para descobrir, às vezes tarde demais, que ela se escora na parede errada.
Acontece que a velha economia não quer pessoas plenas, a velha economia quer pessoas carentes, amedrontadas e, por isso, consumidoras. E também não quer que nos defrontemos com uma libertadora realidade: precisamos de muito para sobreviver e de pouco para viver.
O medo paira no ar, então dê nome a ele. Qual é o seu medo, quanto opta pela saúde e qual é o seu medo quando opta pela economia? Diante das respostas, quem sabe você possa rever suas prioridades.
Comecei com uma anedota e vou encerrar com outra. O milionário avarento está sendo levado para a sepultura. De repente ele revive, recobra a consciência, avalia a situação e toma uma decisão rápida:
– É melhor eu ficar quieto, senão terei de pagar a conta do enterro.
Vida ou dinheiro? Você decide.