Aforismos, ditos e ditados, máximas e sentenças. Em geral, elas atravessam gerações, sem muitos questionamentos. Mas sendo aqui um espaço de reflexão, colocarei em xeque o aforismo “dois pesos e uma medida”. Ouvi dizer que vem com o endosso do filósofo grego Sócrates. Disso não tenho certeza. O que sei é que há muita confusão no seu uso. Há quem diga “dois pesos e duas medidas”, mas o usual é “dois pesos e uma medida”. Mas isso não importa tanto. O que importa é como o termo é usado e o seu significado. E o que o aforismo pretende caracterizar é o tratamento diferenciado de uma para outra pessoa. Em outras palavras, é usado sempre que critérios de justiça são violados.
Será que a medida de igualdade usada (bem ou mal) pela lei é a mesma que deve ser aplicada na administração de uma empresa?
Micro sociedade
Embora toda empresa seja uma micro sociedade, não podemos considerar que todos são iguais perante a lei, ou melhor, as regras da casa. Pense bem: a falta cometida por um diretor comercial tem o mesmo peso que a mesma falta cometida por um vendedor? Diante do acesso às informações, da visão sistêmica do negócio, da bagagem profissional, é muito razoável que o diretor comercial tenha um grau de responsabilidade que não se espera, na mesma medida, do vendedor. Não poderiam, portanto, sofrer o mesmo tipo de repreensão. Portanto, aqui cabe pesos e medidas diferentes na hora de tratar do fato. A mesma percepção se aplica no caso de dois vendedores com mais ou menos tempo de casa do que o outro. As pessoas são diferentes e, portanto, o melhor é tratá-las de maneiras distintas.
A justa remuneração
Como remunerar com justiça é um assunto controverso. Em busca de uma solução simples, foram criadas descrições de cargos e funções e suas remunerações adequadas. Alguns descalabros: pessoas com competências diferentes recebem os mesmos montantes desde que exerçam a mesma função. O que tem valor é o cargo, não as pessoas. Nessa situação, as caixinhas do organograma são mais valorizadas do que talentos, competência e desempenho.
A polêmica justiça
Justiça é um valor complicado. Os impasses que tratam dele são complexos e questionáveis. Nem sempre conseguimos ser justos na empresa. Nem sempre as coisas devem e podem ser ditas. Muitas vezes, para fazer justiça, há de se agir de maneira não tão justa aos olhos de todos. E de usar pesos e medidas diferentes. Portanto, justiça é um valor que se deve buscar e o valor que menos se deve prometer. Pois lá vai outra máxima: “a todos conforme suas necessidades, de todos conforme suas capacidades”. Justo? Sempre vai depender do ponto de vista e da vista de onde o ponto está. Minha avó arrematava de forma mais simples e direta: “quem pode mais, dá mais”. E ponto.
Esse é um assunto sério e controverso. Ralmente deveríamos remunerar de forma diferente as diferentes competências, mas a leinão permite isso. Para contratar alguém é preciso enquadrar essa pessoa em um código do ministério do trabalho, o que em síntese define seu cargo. A lei também define que. Para funções iguais, salários iguais (independentemente da competência de cada um) e as empres são fiscalizadas para que cumpram essa ordem. Dessa forma, para cumprir a lei, não há como ser justo. Triste, porém é a realidade de nossa complicada e retrógada legislação.
Sidney
Bom considerar que para uma empresa que se assemelha com uma comunidade, estas questões são menos relevantes do que a empresa que se assemelha com uma organização.
Na empresa-comunidade as pessoas estão menos interessadas em cargos e planos de carreira e mais interessadas nos valores e propósitos.
Nessa, as leis de dentro são mais importantes do que as leis de fora, incluindo a nossa retrógrada legislação.
Vale continuarmos tratando desse tema.