Antes de mais nada, é bom que se esclareça o que é piruá. Se você é lá das Minas Gerais, sabe que é o milho de pipoca que teima em não estourar. Fica por lá, acabrunhado diante da exuberância do grão que desabrochou.
O milho que se faz pipoca, no entanto, pode confundir desavisados. Ao fazer escolhas, o agricultor de primeira viagem descartaria as espigas de milho-pipoca, tão mirradinhas são quando comparadas às de grãos bem graúdos. Mas eis que – e fico curioso com quem fez a descoberta – o tal milho mirradinho e aparentemente descartável, quando em contato com uma panela sobre o fogo é o que se transforma em viçosas pipocas. Imagino o olhar de espanto do descobridor ante o que jamais podia esperar, do alarido dos grãos ao aroma tentador, finalizando com o transbordamento das pipocas para fora da panela. Uma verdadeira epifania!
Antes, no entanto, todos os grãos eram nanicos e duros. Difícil saber qual é o piruá e qual será a futura pipoca.
O leitor que conhece a minha prosa já deve estar imaginando onde pretendo chegar. O milho nos oferece algumas lições. A primeira, apesar de muito conhecida, é sempre válido frisar. Uma vez ou outra resvalamos nas aparências, mesmo sabendo que enganam, tal como ocorre com os grãos mirradinhos.
Considere as pessoas no trabalho, aquelas extrovertidas e despojadas, que chamam mais a atenção, e as outras, recatadas e tímidas. Estas, sim, podem guardar fascinantes tesouros.
A segunda lição é que sem passar pelo desconforto do fogo, o milho mirradinho não se transforma em pipoca. Ainda que recatado e tímido, o grão precisa passar pelo sacrifício do fogo para desabrochar. Dentro da panela, o sofrimento deve ser grande naquela quentura que só faz aumentar enquanto os grãos se debatem. Mas também deixa de transformar-se quem não enfrenta o desconforto e prefere a segurança ao risco.
Finalmente, a última lição. Há quem assuma a sina de ser piruá, fugindo da vocação de ser pipoca. Apropria-se da condição de milho mirrado, duro e feio. Não imagina do que seja capaz nem acredita que pode ser muito mais do que parece. Prefere deixar seus dons e talentos recolhidos a oferecer-se em sacrifício aos outros. Escolhe revolver-se em tristezas, sem alegrar os demais, com aroma e sabor. Por mais que tenha grandes possibilidades, aferra-se à dureza de uma realidade imutável e dura.
Ao levantar a tampa da panela, as pipocas vão fazer a alegria das crianças – mesmo as que se mantêm nos adultos – e piruás vão parar no cesto de lixo. Nada como fazer a melhor escolha!
Pipoca!!!
Dura a reflexão , saber que o mirrado pode se tornar exuberante é desafiar a dor … e está mudança ocorre quando o mirrado resolve pular do precipício da borda da panela para o fogo desconhecido … às vezes podemos dar um empurrãozinho , já o graúdo melhor usar para uma bela pamonha …
Interessante. Na minha juventude (e até hoje)o tal piruá era chamado de marinheiro. Nunca entendi o motivo. Outra: a idosos, com dentes fracos, não é recomendável comer pipoca. Salvo as 100% macias.