Presos, mas fora da gaiola

Somos menos livres do que supomos e mais livres do que acreditamos. Talvez soe paradoxal, mas explico.

A gente nem percebe, de tanta imposição solta por aí. Quem se acha livre para fazer o que deseja, pode não ter notado o quanto é prisioneiro mesmo fora da gaiola.

Não me refiro às imposições legais respaldadas pela legislação dos juristas, nem pelas normas adotadas por empresas e escolas ou regras sociais que cumprimos no modo automático. Com essas, já nos acostumamos.  Refiro-me a outras, mais frequentes e presentes, embora tão sutis que sequer desconfiamos a elas estarmos submetidos.

– Você ainda não assistiu…? – pode ser o show da banda de rock, ou o último filme do super-herói ou a polêmica peça de teatro. E lá vai você correr atrás dos ingressos, pois seria inadmissível ficar de fora desses entretenimentos.

Como um cabresto invisível, mas poderoso, a manipulação emocional da indústria do entretenimento e da publicidade conduz o indivíduo para uma direção que ele não escolheu, despertando uma carência que ele mal sabia existir. Esse é um tipo de imposição velada e desapercebida.

Filmes, livros e espetáculos repetem a mesma fórmula que, subliminarmente, impõe decisões e comportamentos automatizados, provocados por apelos de marketing.

Aliás, o marketing extrapolou a sua função dentro da ciência da administração, onde nasceu, para invadir, por meio de seduções e manipulações, outras áreas da vida, como a política, a religião, o meio ambiente, o mundo das drogas, o racismo, o sexo etc.

Reafirmo, então: somos menos livres do que supomos, pois não detectamos tais imposições. Nas poucas vezes em que as notamos, já fomos fisgados. Ao mesmo tempo, reitero: somos mais livres do que acreditamos. Mesmo em pleno transe, ainda somos dotados de discernimento, virtude que nos traz de volta para o centro, sem perder de vista nosso verdadeiro propósito de vida.

É certo que não podemos controlar nem evitar, a princípio, as inúmeras imposições externas que tentam nos conduzir para onde não escolhemos ir. Mas temos, sim, a capacidade de nos manter ligados a um propósito que funcione como um eixo, um centro virtuoso que nos mantêm a salvo, evitando que sejamos tragados por cantorias sedutoras e impositivas de perigosas sereias.  

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