“O tempo voa!” é uma frase muito repetida por aí. De fato, quando vejo o dia chegar ao fim, noto o quanto realizei, mas me espanto com o que ainda ficou por fazer. Não cabem em um dia de 24 horas todos os projetos e desafios que é preciso implementar, dos pessoais – sono, atividades física e espiritual, alimentação, leituras etc. – até os relacionais – contatos, convívios, conciliações com parentes e amigos –, incluindo os profissionais –, reuniões, criações, produções e muitos mais. Como fazer tudo e bem feito nas parcas 24 horas?
Quando penso nos anos de vida que tenho pela frente, um sentimento outonal me invade. Não terei tempo para ler todos os livros que gostaria, nem assistir a todos os filmes, nem ouvir todas as músicas. Não me habilitarei numa porção de atividades alternativas que me atraem, assim posso morrer sem aprender a dançar ou tocar violão. Não conhecerei vários lugares do mundo pelos quais sinto curiosidade. Também não escreverei todos os livros cujas ideias me povoam nem mesmo ajudarei empresas, grupos, líderes e pessoas a quem sinto vontade de contribuir.
Enfim, não tenho e não terei tempo para tudo.
E penso em como seria bom se tivesse mais, quando me sinto assoberbado por numerosos afazeres e compromissos. Mas logo me ocorre outro sentimento. O de ter todo tempo do mundo. E de não saber o que fazer com ele.
Levantar pela manhã e não ter o que fazer está longe de ser o melhor dos mundos. Certamente não é. Mas há quem padeça de tal sofrimento, levando a vida a esmo, em infinita desocupação.
Muitos, porém, são os chamados e súplicas! É possível definir o mundo como gentes necessitando a ajuda de outras gentes. Somos capazes de oferecer ajuda por meio de empreendimentos e negócios. Aliás, essa é – ou deveria ser – a vocação mais sublime dos negócios e empreendimentos: almas humanas servindo outras almas humanas. Ou voluntariando-se de alguma outra forma.
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9,32-38).
Não faltam chamados, é só ter ouvidos para escutá-los, de maneira que seus clamores ressoem. Num raio de dois quilômetros de onde você está agora tem alguém precisando de ajuda. A questão não está no chamado, mas na chama. O chamado é de fora, a chama é de dentro. Algumas, quase se apagando, precisam aumentar o seu vigor. Como fazê-las reavivar-se? Um propósito é a resposta. E o propósito é a conexão da chama com o chamado. Os chamados parecem não vibrar, não causar nenhuma motivação, até que a conexão aconteça e a chama incandesça.
Chama e chamado constituem o 4º. desígnio de que trato no livro “O Velho e o Menino”. Elevar a própria chama enquanto se atende a um chamado é a melhor maneira de contribuir com o mundo. E é também a melhor maneira de fazer do tempo um bem supremo. Sem jamais sentir culpas e arrependimentos.