Se quisermos alcançar a paz de espírito, uma coisa temos de compreender: todo relacionamento humano é feito de oposição e conexão.
A dificuldade inicial é que entendemos por um bom relacionamento aquele em que nos sentimos conectados com alguém. Sem dúvida, esse é o resultado desejável. Buscar a conexão deveria ser a meta de todos os relacionamentos. Mas obtê-la requer um processo feito, inevitavelmente, de oposição. Almejamos o resultado – a conexão -, mas não o processo – a oposição. Se não compreendermos essa intrincada dinâmica, jamais construiremos relações sólidas e verdadeiras e seguiremos, incólumes, acreditando nas falsas amizades.
A pessoa com a qual nos relacionamos é o outro, ou seja, diferente de nós e único, mesmo que existam afinidades. Mergulhando mais fundo, percebemos que mesmo as afinidades existem por razões distintas. Cada um é ímpar, o que implica aceitar a possibilidade inevitável de colisões e conflitos. Caso contrário, a perspectiva é de domínio de um sobre o outro, como acontece em algumas relações conjugais e também, como muita frequência, nas de trabalho, principalmente quando a hierarquia se intromete mais do que devia. O autoritarismo tenta uma conexão à força, sufocando a oposição. Desse modelo de relacionamento desproporcional só pode resultar rancores e ressentimentos, justamente o contrário da tão desejada paz de espírito.
Se quisermos alcançar a paz de espírito precisamos admitir que isso depende dos relacionamentos e deles não nos livramos. Há quem sonhe se afastar, fugir de tudo e de todos, esconder-se no meio do mato, virar um ermitão, entre outras fantasias de deserção, para evitar o implacável embate que existe nas relações humanas. Mas sabemos que tais derivativos não procedem. Melhor é compreender e aceitar o pacote completo. E o pacote completo inclui oposições – colisões, pontos de vista diferentes e até antagônicos, conflitos – e conexões – alinhamento, afinidade, comunhão.
Dificilmente conseguiremos chegar à conexão sem antes passarmos pelas oposições. E é assim que construímos relacionamentos verdadeiros e, juntos, a nossa desejada e merecida paz de espírito.
Entender que no meio dos processos onde ocorrem as colisões e conflitos, surge uma percepção, um sentimento, tornando vivo o que parecia morto. Me pergunto se tornar a vivência do processo confortável é um caminho arriscado para a falência do mesmo, o que você acha?
Liria, tanto nas relações como nas outras esferas da vida, conforto não é a melhor palavra.
Se não leva à falência direta, leva à estagnação que é um tipo de falência à médio e longo prazo.
Importante é combater o bom combate. E o bom combate é feito de conflitos sem perder de vista as intenções virtuosas.