A pergunta vem de uma experiência feita pelo professor de Harvard, o psicólogo Daniel Simons, sobre a questão do ponto cego, ou seja, aquilo que existe, mas a gente não vê. No vídeo de 30 segundos a respeito, seis jogadores de basquete – cada equipe de três com diferentes cores de camiseta, uma com branca, outra com preta – fazem passes de bola para seus próprios times. O desafio de quem acompanha as imagens é contar quantas vezes os jogadores de camisetas brancas batem bola entre si.
Se quiser viver a experiência, antes de prosseguir na leitura, assista o vídeo abaixo: daniel simons gorila.
Se aconteceu o mesmo com você, é possível que tenha se concentrado exatamente na contagem pedida, sem perceber que, no meio do vídeo, entra em campo um homem vestido de gorila – ele caminha devagar entre os jogadores, bate no peito e depois vai embora. Quando se pergunta aos espectadores “quem viu o gorila?”, surpreendentemente pouquíssimas pessoas respondem “sim”. A maioria não notou a estranha presença.
Sim, as coisas estão aí – inclusive um gorila – mas a gente não vê. A esse fenômeno dá-se o nome de ponto cego.
Vamos fazer uma viagem no tempo, rumo ao passado. Do século XX, em que Daniel Simons realizou sua experiência, para o quarto século a.C., durante o qual o homem mais famoso da história pisou esse mesmo planeta. Não sabe de quem se trata?
Talvez você se surpreenda, com a informação. Aristóteles é considerado o homem mais famoso da história, aquele que mais influenciou a cultura do mundo, segundo o laboratório de mídias do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), revelou matéria publicada pela Folha de S.Paulo (15/03/2014). De acordo com tal critério, Aristóteles supera Platão, Sócrates, Leonardo da Vinci, Confúcio e até mesmo Jesus Cristo.
Pois bem, esse “mais famoso do mundo” não via o gorila que estava embaixo de seu nariz. Naquele tempo, onde ele vivia, na cidade de Atenas, berço da filosofia ocidental, havia cinco mil cidadãos sustentados por cerca de cem mil escravos – dizem os historiadores. É possível imaginar que no Liceu de Atenas, fundado pelo filósofo, discípulos ficavam concentrados em seus exercícios de aprendizagem, enquanto escravos ao redor preparavam e serviam as refeições, limpavam o chão e as latrinas. Mesmo Aristóteles, com toda a sua sabedoria, não percebia a presença do terrível gorila da escravidão, presente nos serviçais que trafegavam continuamente em seu entorno.
A razão dessa história? Simples! Não conseguimos resolver problemas cujas causas estejam em nosso ponto cego. Se não enxergamos, como poderíamos resolvê-los? Ponto cego tem relação com aquilo que não conseguimos ver, com o que não estamos preparados para ver – e por isso não vemos -, e com aquilo que não queremos enxergar, mesmo que esteja escancarado em nossa frente.
Embora nos recusemos a ver – consciente ou inconscientemente –, o gorila existe. Faz estripulias e estragos. Sem que nós sequer tenhamos ideia do alcance de seus movimentos. Parece a você uma boa perspectiva? Se não, trate de descobrir os pontos cegos, como a gente faz ao volante, para evitar colisões.
Incrível!
Eu vi o gorila! Ebaaaa.