Já havia tratado no artigo anterior, mas insisto em voltar ao tema por me defrontar com ele quase todos os dias: as pessoas não querem retornar ao trabalho ou não querem retornar ao trabalho nas condições anteriores.
Algumas porque conseguiram alternativas de remuneração mais vantajosas do que aquela que incluía, além dos transtornos da locomoção, a empáfia de um chefe autoritário. Outras porque descobriram que podiam ser felizes ganhando menos em dinheiro, mas ganhando mais tempo com a família. Outras, ainda, porque decidiram abrir mão do emprego por um empreendimento que sonhava há muito tempo.
O fato é que a pandemia sacudiu o coqueiro. Ofereceu tempo para pensar e experimentar outro tipo de vida no trabalho ou da constatação de que existe vida além do trabalho. Embora muitos anseiam o retorno ao normal, o caminho é sem volta. O mundo não é mais o mesmo, as relações de trabalho não são mais as mesmas.
No entanto, continua um embate entre o velho e o novo. Nada mais velho do que oferecer benesses para reter as pessoas nos empregos. As alternativas vão desde abrir mão de horas de trabalho até a oferta de benefícios dos mais variados, de convênios com restaurantes e mercados à carros por aplicativos ou alugados; de acordos com farmácias e clínicas terapêuticas à educação, cultura e entretenimento. Um leque sofisticado de opções para cativar e reter talentos.
Todas elas têm um defeito comum: foram feitas para que as pessoas sejam felizes enquanto não estão trabalhando. Nenhuma delas foi pensada para as pessoas se sentirem bem com o próprio trabalho.
A graça está em realizar e se sentir realizado enquanto se trabalha. Isso vai ser possível diante de um trabalho com propósito, revestido de sentido e significado. Vai acontecer, também, quando o trabalho desafia e fortalece os próprios talentos.
Também quando se é integrante de uma equipe de alto desempenho cujos membros trocam entre si, além de informações e conhecimentos, também emoções e sentimentos; além de sonhos e ideias, também propósitos e valores.
A graça está em criar e se divertir juntos, arriscar, acertar e errar juntos.
Não há subterfúgios externos capazes de causar os mesmos efeitos psíquico-emocionais-espirituais dessa força que vem de dentro e que é da própria natureza do trabalho.
Para finalizar, um detalhe curioso e importante: a força que vem de dentro, ao contrário da que vem de fora, nada custa. Apenas o exercício adequado de liderança.
Irônico, não é?