O vazio entre as duas conversas

Tem gestor que só conversa duas vezes com o seu liderado: quando admite e quando demite. Entre ambas, nenhuma outra. 

Quando da contratação, sonhos de noites de verão. Felizes, o gestor, que acredita ver seus problemas resolvidos, e o contratado prestes a viver as venturas de um novo emprego. 

Qual o quê!

Basta uma olhada nas agendas. A do chefe, que trabalha muito e tem mais no que pensar, é muito apertada, enquanto a do colaborador acumula pendências. 

Encaixar-se na agenda do chefe é um desafio sem tamanho. Às vezes o que resta são os extremos do dia. Tempos parcos para temas fartos.  Noves fora as tantas vezes em que a reunião se desloca para além do horário de trabalho.  

Pior ainda quando a prioridade do chefe se sobrepõe à do colaborador que, a contragosto, faz os seus remanejamentos para se ajustar ao chefe. 

Cadê aquela disponibilidade da entrevista de seleção? 

Colaboradores suplicam que seus gestores estejam disponíveis abrindo a possibilidade deles participarem das decisões que os afetam. Querem dar as suas opiniões. Têm sugestões a fazer e queixas, também. 

Colaboradores gostam quando notam que o gestor se interessa por seus pontos de vista e considera seus conhecimentos.

Colaboradores querem se sentir partícipes, não meros executores. Seu nível de engajamento está na relação direta do seu nível de participação. Querem viver os mesmos valores e propósito. E tudo isso não acontece sem que haja tempo e espaço para que ocorra. 

Essa disponibilidade vai além do interregno para despachar e resolver problemas. Não se trata apenas de aspectos técnicos do trabalho, mas também das relações e do trabalho em equipe. Tal adendo é que transforma uma relação-objeto, apenas utilitária, em uma relação-sujeito, portanto, humana. Esse é o principal tema a preencher o vazio entre as duas conversas, a da admissão e a da demissão. 

Todo colaborador quer ser considerado. Semelhante consideração ele estende para o cliente que, uma vez sentindo-se também considerado, responde com fidelidade. 

A disponibilidade que um colaborador tem para com o cliente é diretamente proporcional à disponibilidade que o gestor tem para com o colaborador.

Todos gostam daquela atenção singular que faz com que se sintam especiais, sejam colaboradores, sejam clientes.

Isso tudo tem nome: Capital Relacional. Com ele, as coisas podem ser muito melhores.

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