A sociedade do dever não era lá a melhor coisa do mundo, mas tinha suas vantagens. O líder sabia o que precisava ser feito e seus subordinados cumpriam o indicado de forma obediente e disciplinada. Era um mundo previsível, regular e, de certa forma, estável. As principais buscas se resumiam a sobrevivência física e segurança. Tempos em que o emprego público e concursado era o objetivo profissional de muitos candidatos ao mundo do trabalho.
A sociedade do poder avançou sobre a sociedade do dever. Antes, o empreendedor era também o empregador. Agora, cada um é empreendedor de si mesmo. Nem sempre existe um líder por perto operando como fonte de controle e conhecimento. Cada um vale pelo desempenho que oferece e o mundo tornou-se imprevisível, irregular e instável. As principais buscas são a de superar-se e a de continuar viável em um ambiente volátil, que muda a cada instante. Mais do que a sobrevivência física e a segurança, as ameaças agora são psíquicas e neuronais.
De uma sociedade para outra ganhou-se em liberdade, mas aumentou muito a responsabilidade sobre si mesmo e de uma forma muito rápida, acelerada pela pandemia. Foi, sim, para muitos – líderes e liderados – uma verdadeira hecatombe no mundo do trabalho.
Entre uma e outra sociedade instalou-se um vazio de liderança. Antes, o líder como fonte do poder e do controle assumia boa parte do que, agora, foi involuntária e definitivamente delegado.
Delegar sempre foi um desafio para líderes centralizadores. Eles contavam com o respaldo do controle sobre o trabalho – faltas e cumprimento dos horários – e estava em suas mãos liberar as rédeas a sua vontade sem perder o controle de todo. As rédeas se tornaram frágeis e os mecanismos de domínio e manipulação se enfraqueceram. Como estavam habituados com a subserviência, a liberdade concedida por força das circunstâncias surge como uma ameaça.
Mas não pense que os que foram acometidos pelo poder do dia para noite desfrutaram dessa conquista. Mais perdidos do que nunca, agem como birutas em campo de aviação, acostumados com o modelo arcaico de cumprir ordens. Sem direção e orientação, não sabem o que fazer com a liberdade que lhes caiu por sobre os ombros. Diferentemente da leveza que poderia oferecer, o que poderia ser um poderoso trunfo transformou-se em um fardo ainda mais pesado. Sem os horários para assegurar o tempo de descanso, agora o que existe é a maximização do desempenho, qualquer que seja o lugar ou o momento.
O vazio de liderança pressiona, portanto, ambos os lados: o líder e o liderado. Inútil preenchê-lo com o aparato gerencial da sociedade do dever. Será preciso desenvolver um modelo que se coadune com a nova economia que chegou ainda trôpega, mas já definida como uma economia mais ao natural.
Uma economia ao natural pede um modelo de liderança ao natural. Você verá exemplos concretos dessa instigante novidade em meu mais recente livro Pedaços de Brasil que dão certo. Confira e aproveite para não perder o bonde da história.