Foi o que perguntei a um grupo de anciãos e líderes indígenas do povo Krahô, quando estive lá recentemente. Situada no estado de Tocantins, perto da divisa com o Maranhão, a área desse povo indígena tem uma população de 3500 pessoas, distribuídas em 42 aldeias. Estive na “aldeia tronco”, um tipo de matriz das demais.
Numa mistura de língua Jê, da tradição Timbira, misturada com o português, a resposta surgiu, ao seu jeito:
– A nossa cultura.
Ao ouvi-la, quis saber, procurando me comunicar da melhor maneira a ser compreendido, quais as expressões dessa cultura. Conectei a questão com um encontro vivido no dia anterior, à sombra da mangueira onde as conversas acontecem, ainda no mesmo pátio circular do centro da aldeia. Naquela, os mais velhos ressentiam-se dos seus jovens não preservarem a tradição dos Krahôs.
Sua cultura envolve a atividades como furar a orelha, banhar-se nus diariamente nos rios, riachos e cachoeiras, pintar o corpo, participar das corridas de toras e das festas e aprender as cantigas e os rituais. O que os jovens querem mesmo é jogar futebol, algo que não tem nada a ver com as tradições daquele povo, assim como o costume das jovens manter os seios desnudos.
Estava, mesmo subliminarmente, ensaiando com eles um código de nobreza, mas sabia ser inútil fazer a clássica pergunta “qual o valor que melhor representa o povo Krahô?” Então, preferi lançar mão da pergunta inicialmente mencionada – o que existe de maior importância para vocês? – para chegar lá de forma indireta. E foi o que consegui depois de algum tempo de conversa.
– Vocês fazem tudo isso – eu lhes disse – desde a maneira como as suas casas estão construídas ao redor do pátio, incluindo as festas, as cantigas e os rituais, porque querem manter a união.
UNIÃO! Ao dizer essa palavra, muito bem entendida por todos, parece que eu havia tirado um coelho da cartola.
Diante de tal valor, a adesão foi total. Inaugurara o código de nobreza e, a partir daí, disse que a união poderia continuar se manifestando por meio dos costumes tradicionais, mas também incluindo o futebol, mais ao gosto dos jovens.
Estava lançada a semente que conectava o velho e o novo, o respeito à tradição e a abertura à inovação, mantendo e revigorando o valor governante, aquele que mantém a cultura em pé.
Outras experiências gratificantes foram vividas naquela sociedade tribal. Oportunamente serão compartilhadas. Importante é constatar que a nobreza humana está em todos os lugares, quando temos olhos de ver e profunda compreensão do que nos cerca.
“A UNIÃO faz a força”um conceito válido desde os primórdios da nossa civilização que se mantem atual até os dias de hoje.