O paradoxo do aqui e do acolá

Elevar a consciência é um dos objetivos da metanoia. É expandir-se no acolá, terminologia bem adequada para fazer distinção ao aqui. Consciência e acolá são palavras subjetivas, dificultando, portanto, que todos as entendam do mesmo jeito. Subjetividade à parte, tendemos a acreditar que existe algo em outra dimensão capaz de nos ajudar a lidar melhor com a que nos deparamos no extenso lapso entre a hora de acordar e a de dormir, ou seja, o exercício da existência.

Elevar a consciência significa buscar um patamar superior, além da ignorância e da limitação, para alcançar um refinamento de nossos pensamentos e sentimentos, uma energia virtuosa originada de nossos mais nobres valores. Acessível – e nisso há uma justiça – a todo ser humano.

Sempre que me refiro à expansão da consciência e ao acolá, muitos entendem que se trata de desconectar-se do aqui, o mundo árduo da existência, da rotina diária, das tarefas enfadonhas, das trivialidades inescapáveis. Elevar a consciência, entretanto, não é viver somente no acolá. É manter-se com os pés no aqui, aonde tudo acontece. Implica lidar de forma coerente com os acontecimentos diários, relacionamentos e tarefas.

Entre os ensinamentos budistas, gosto muito do diálogo a seguir.

Certa feita um discípulo perguntou ao mestre zen como era sua vida antes da iluminação, e a resposta foi:

– Cortava lenha, carregava lenha, acendia o fogo.

– E agora? – indagou, curioso, o jovem.  

O mestre respondeu sem hesitar:

– Corto lenha, carrego lenha, acendo o fogo.

Não existe qualidade de vida na existência sem antes expandirmos a consciência. Não existe bem-estar no aqui sem a ajuda do acolá. Mas, acredite: continuaremos fazendo as compras no supermercado, levando os filhos à escola e conferindo os extratos bancários. Se quisermos nos elevar além do trivial e do ordinário do cotidiano, vamos precisar trazê-lo sempre junto conosco. É uma interação virtuosa, que vale a pena vivenciar com plena consciência e nobres valores.

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