Todos querem ter boa memória. Para mantê-la viva, há quem busque recursos nos alimentos e nos suplementos vitamínicos. Ou ainda recorra a exercícios que garantam, tal como um músculo nas atividades físicas, fortalecê-la sempre mais.
Memória é bom, por um lado, mas, por outro, o esquecimento tem seus méritos. Seria quase impossível continuar vivendo sob o peso de memórias as quais não seja saudável manter vivas. Nem me refiro às traumáticas, indesejadas, indevidas, cabulosas e indecentes. Não me atrevo a mexer nesse território. Refiro-me às menos nocivas e que, de bom grado, não devem ser retidas, pois de nada servem.
Tome como exemplo o tempo de escola, quando éramos obrigados a decorar o nome dos imperadores, as datas e informações sobre as guerras, a tabela periódica dos elementos, as definições de cromossomos e mitocôndrias. Conhecimentos que valiam só para o armazenamento até a hora das provas e dos exames, para, logo depois, serem esquecidos. Talvez seja por isso que as universidades são cercadas de bares. Para que os estudantes possam embriagar-se logo após os vestibulares, as provas e os exames, acelerando assim o processo de esquecimento. Um tipo de higiene, para assegurar a manutenção da sanidade.
Se tudo terminasse naqueles dois terços de vida que passamos nas escolas quando jovens, menos mal. Mas o demônio do infrutífero costuma nos acompanhar também na vida profissional adulta. Costumo dizer, para o constrangimento dos ouvintes, que 80% das atividades a que as pessoas se dedicam nas empresas não servem para nada! Todos ficam espantados com a elevada estatística, mas depois de algum tempo de conversa acabam por concordar. Alguns até declaram que fui comedido no percentual, diante do que ocorre na realidade.
Entenda como “não serve para nada” o trabalho que não produz riqueza alguma, não contribui para algo ou alguém e não faria falta se deixasse de ser realizado. São ações repetidas diariamente, executadas no piloto automático, sem alma, destituídas de valor. Um trabalho descartável, sem nenhuma pretensão a que seja memorável.
Assim como nos tempos da escola, a vida profissional adulta precisa reconquistar o sentido e o significado. Lá, o que garante essa condição é um bom professor, que ama o estudante mais do que a matéria, a ciência ou a disciplina. Aqui, o que garante é o líder, aquele que ama o colaborador mais do que as metas, o trabalho e os resultados.
Enquanto isso não acontece, três vivas para o esquecimento.