De tudo, valeu o abraço amigo, a conversa sincera, o brilho nos olhos.
Valeu a palavra encorajadora, o sorriso que rompe as portas cerradas dos inúteis jardins secretos onde escondemos a nossa melhor parte.
Valeu a lágrima vertida na face tantas vezes oferecida.
As confidências compartilhadas que afugentaram os medos.
As mãos dadas em comunhão, a gratuidade do afeto, a doçura e a ternura.
O sabor incomparável do companheirismo, provado no pão repartido e a vida voando solta, livre dos apegos.
O peito aberto ao vento da liberdade sob o sol do meio-dia, momento mágico, divino, em que as sombras inexistem.
As dores também valeram. E como! As provocações, as dúvidas, os medos, a culpa, os sentimentos de rejeição, as mágoas e as raivas.
Como viver sem esses sentimentos? São também parceiros da travessia, colocam em xeque os nossos valores e nos ajudam a aprender. Anunciam algo dentro de nós que precisa ser conhecido. E esse conhecimento nos torna menos inacabados e mais inteiros.
Porque a travessia é boa quando olhamos para nós mesmos e gostamos do que vemos.
Quando descobrimos um pouco mais da nossa verdade, das nossas virtudes, dos nossos talentos.
Quando nos reconhecemos íntegros, criadores e divinos.
Quando reencontramos nossas raízes e nossas asas. E então nos orgulhamos.
E faríamos a travessia quantas vezes fossem necessárias. Porque a Terra Prometida não está no final da travessia, mas na nossa maneira de caminhar. Não há Terra Santa, há uma maneira santa de caminhar sobre a terra. A de apreciar a vida, em vez de depreciá-la.
E quando apreciamos a nossa vida, apreciamos também a vida dos outros. Porque a vida é una, a todos pertence. Partilha infinita.
E aí está o melhor da travessia. É quando seguimos cercados de amigos. Que têm as mesmas dúvidas, vivem as mesmas dores, sonham os mesmos sonhos. E querem muito fazer parte de uma vinha maior.
Querem contribuir com a Grande Obra.
Querem dar sentido à existência.
Querem reencontrar a essência.
Querem despertar para uma nova aliança.
Porque o que fica, ao final dessa travessia de altos e baixos, é aquilo que doamos.
A nossa escuta, a nossa atenção, o nosso interesse.
A nossa entrega.
Os nossos dons.
E o maior de todos os dons. O amor. Absoluto, sem condições.
Então, é Natal!