Estávamos em uma sala com cerca de duzentas pessoas. Eu conduzia uma atividade que trata das relações humanas. Pedi que cada uma delas escrevesse nomes de pessoas amigas que passaram por sua vida. Música de fundo, deixei que a lista fosse preenchida sem pressa.
Depois, solicitei que traçassem duas retas verticais compondo três colunas. Na primeira, orientei que escrevessem: agradecer. Na segunda: fazer uma declaração de amor. Na terceira: perdoar. Em seguida, solicitei que extraíssem nomes da lista, destacando três para cada coluna. Dei o tempo que precisavam para que recordassem, refletissem, apreciassem, sentissem.
Depois, averiguei. Sugeri que erguesse a mão quem havia preenchido a primeira coluna. Muitas foram erguidas. Em seguida, foi a vez da segunda coluna e as mãos erguidas se repetiram. Acho que o leitor e a leitora conseguem imaginar o que aconteceu quando fiz a mesma solicitação para a terceira coluna, aquela do perdão. Na sala repleta, parcas mãos se aventuraram, dava para contar nos dedos.
De todos os desafios enfrentados nos relacionamentos, nenhum deles é maior do que perdoar. E não nos faltam esclarecimentos sobre o quão bom é perdoar, tanto para um lado como para o outro. Racionalmente, ninguém duvida que o perdão faz bem. Mas a trava emocional é tamanha que poucos se permitem ao menos experimentar.
Sobre o tema, não pretendo a abordagem muito conhecida de que o perdão liberta quem é perdoado na mesma medida da cura de quem perdoa. Compreendo-a, mas assim como acontece a muitos, a compreensão em nada me encoraja a tomar a sábia atitude de perdoar. A birra prevalece.
Por vezes, confundimos perdão com esquecimento. Existem coisas difíceis de esquecer e que talvez nem devam ser esquecidas. Faz parte da memória de aprendizado. Melhor pensar no perdão como arrependimento, capaz de corrigir e, uma vez corrigido, o erro não será mais repetido. Também consigo compreender tais correlações, mas ainda assim persiste a dificuldade de perdoar.
O perdão, assim como a compaixão, é o ápice da evolução humana. Beira a santidade.
Quem conquista esse estágio, aproxima-se do sublime, tantos são os demônios internos que precisam ser domados. E penso que talvez esse seja o seu maior mérito, além dos seus efeitos terapêuticos, tanto para quem concede o perdão como para quem é perdoado: a vitória sobre os demônios que devem importunar, no sono ou na vigília, outros desafios humanos.
O perdão é um teste e uma provação. O que fazer? Nessa hora, ilumino o meu espírito com os dons e a santidade de Francisco de Assis, quando em mim ressoam as suas palavras: “se algo rouba a paz no meu coração é porque ocupou o lugar de Deus”.
Devolver a Deus o seu lugar é o maior de todos os desafios humanos. Reflita, com amor, e ouse praticar.
Profundo. Como Temos deixado tão pouco espaço para Deus em nossos corações… A Paz a todos!!! Renovação, autoconhecimento e empatia. Feliz 2024 a todos!!!
Texto verdadeiro, tive uma experiência de pedir perdão uma vez a uma sócia. Nem sabia o que tinha feito a ela, mas ela saiu machucada da relação, onde na verdade, na minha visão ela tinha que me pedir perdão. Quando pedi perdão, minha vida, os caminhos abriram de tal forma, que conheci o poder do perdão.
Muito bom. Obrigada
Paz e Bem