O fundamental e o essencial

O que é mais importante, a fé ou o conhecimento? Vez por outra, costumo lançar essa pergunta para grupos de educandos que conduzo. A turma geralmente se divide em dois grupos de adeptos: os da fé e os do conhecimento. Daí costuma sair um produtivo debate com argumentos calorosos.

 

Há os que não duvidam da primazia do conhecimento, do poder das informações, da importância da competência técnica, das habilidades comportamentais e da expertise na elaboração de estratégias. Acreditam que o conhecimento é a garantia de perenidade e de crescimento de um negócio, bem como de sua capacidade de gerar riquezas. Apresentam, de fato, argumentos muito convincentes. É um quesito de indiscutível importância para o sucesso profissional e empresarial.

 

Mas os defensores da fé não ficam atrás. Fé é algo abstrato, difícil de explicar, e não é raro existir certa polêmica devido à sua relação com a religião. Mesmo assim, não faltam argumentos fortes. Seus defensores costumam dizer que o conhecimento ainda depende de ver para crer, mas a fé é acreditar sem ter visto. Disso decorre uma grande vantagem: a do poder de uma visão.

 

A sequência da discussão costuma levar alguns a flexibilizar seu ponto de vista, enquanto outros se tornam mais intransigentes. Tal debate, aliás, não é novo. É semelhante a aquele do tempo do Iluminismo e que colocava o científico contra o empírico.

 

Os que apostam no conhecimento, aceitam a administração como ciência, tal qual se ensina nas universidades. Os adeptos da fé costumam lembrar que as universidades não criam empreendedores. Estes são provenientes de atos de fé. De fato, vários entre os bem-sucedidos não se deram ao trabalho de cursar alguma faculdade, nem mesmo as que se dedicam à administração.

 

Ao lançar a pergunta, não tenho nenhum interesse no consenso, muito menos no convencimento, pleiteando a favor de uma ou de outra visão. Mas não perco a oportunidade de discorrer sobre o processo da metanoia que, respeitando tanto o científico como o empírico, faz com que a fé e o conhecimento andem de mãos dadas, sem prejuízo de uma ou de outro. Fazemos bom uso das teorias testadas pela ciência, mas sabemos que a mudança de modelo mental, a própria definição de metanoia, é um ato de fé. É algo que ocorre em nossa consciência, antes de se verificar, na realidade. Dificilmente conseguimos enxergar algo se não acreditarmos que possa existir. Mas, se acreditarmos, somos capazes de ver. E uma vez visto, somos capazes de realizar.

 

Vamos a um exemplo simples e mais “pé no chão” para ilustrar: se você quer que o seu ponto de venda seja próspero, não vai adiantar simplesmente mudar certas coisas, como ampliar a sede, comprar equipamentos ou instalar um novo software de informações gerenciais. Você terá de mudar sua percepção – ou modelo mental – de prosperidade. É um passo que depende fundamentalmente de sua fé. E isso explica porque o conhecimento, apenas, não dá conta do recado. A conjunção, sim, é perfeita.

 

Moral da história: o conhecimento é fundamental, mas a fé é essencial.

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