Para que serve um propósito?
Serve para realizar-se no mundo, dirão alguns. E tal realização pode ser passar em um exame, ganhar uma medalha, escalar uma montanha, casar e ter filhos. O propósito é sempre um alvo a alcançar. A crença é de que essa realização vai gerar um sentimento de felicidade.
Na sociedade em que vivemos, um bom propósito é aquele que impulsiona alguém a ter e acumular coisas. Quanto mais coisas você tiver, mais feliz será. De acordo com esse entendimento, a medida do propósito é o consumo.
Existem, de maneira consciente ou não, propósitos de vários tipos. Há quem veja o propósito, em vez de um lugar para chegar, como a própria caminhada. O processo é, então, mais valorizado do que a chegada.
Outros, no entanto, nada ambicionam. E por medo! Seja do fracasso ou do sucesso. O verbo ambicionar não lhes soa bem e seguir a vida de modo simples e honesto já é um propósito de bom tamanho.
Resolvi usar a metáfora da seta e do alvo, no livro “O Velho e o Menino”. O propósito é tanto o alvo, um lugar para conquistar, como o percurso da seta, o processo para chegar lá.
A ambição faz parte dessa história. Sem ela, evita-se ou procrastina-se dar o primeiro passo. E o primeiro passo é aquele que dá melhor visibilidade ao alvo, enquanto se ajusta o sentido da seta.
No livro, mostro como os desejos quando burilados vão se transformando em propósito. Percebe-se que, em um nível mais profundo, o verdadeiro propósito não é descoberto no nível do “aqui”, mas do “acolá”. É, portanto, mais imaterial do que material. Leva-nos a um estado de ser, capaz de forjar uma vida mais significativa.
A seta e o alvo, concomitantes, afinando o alvo e refinando o sentido da seta, interminavelmente. Um exercício de arqueiro que, por si só, já um bom propósito.