Deixe-me lhe dizer uma coisa: sabe onde a coisa pega? Na mania de posar de proprietário. E, também, na crença de que liderança se transmite pelo DNA. Se for assim, o que se passa? Você trata a sua empresa como se fosse uma capitania hereditária e a prole, uma dinastia.
Às vezes até funciona, quando os herdeiros se preparam adequadamente e o melhor indicador é quando quem o sucede supera o fundador. Mas, aparentemente, não é o que mais acontece. Ditados sempre surgem de indícios bem reais. Lembre-se daquele “pai rico, filho nobre, neto pobre”.
Recentemente, estive em uma região agrícola para fazer palestra cujo tema envolvia a questão de liderança. Ali mesmo, décadas atrás, vários empreendedores criaram seus negócios com fé e coragem, de maneira que, bem-sucedidos, estão consolidados.
Aqueles fundadores se transformaram em líderes do jeito que acreditavam ser o melhor e prosperaram. Nunca, no entanto, perderam a pecha de proprietários. Ou seja, sempre pensaram o empreendimento como um patrimônio exclusivo de família. Hoje, não sabem o que fazer. Os herdeiros, ricos de nascença, usufruem os fins, mas não querem saber da labuta dos meios.
O problema não está em ser proprietário, pois esse é um direito escritural documentado no próprio contrato social. A sorrateira armadilha reside no modelo mental subliminar a esse papel, uma vez que influencia diretamente na maneira de gerenciar o negócio. O “dono” se apega à propriedade e mantém com ela uma relação visceral. Tanto que envolve identidade. Os altos e baixos da propriedade são os altos e baixos do proprietário e vice-versa. Não existe um sem o outro, com os biorritmos emparelhados.
Atenção, porque você tem uma alternativa: ser hipotecário. Entre esta figura e o proprietário encontra-se o distanciamento necessário para pensar o empreendimento gerador de riquezas que vai muito além da família nuclear, estendendo-se por todo o holograma, em que o epicentro é a empresa.
Ser hipotecário é compreender que nada é seu, tudo está de empréstimo. Considere a sorte de ter sido agraciado por um pedaço de planeta que precisa ser cuidado e preservado, cultivado e amado. O propósito é fazê-lo florescer e render frutos, para si, a família nuclear e a humana, bem mais ampla. Ao final, sua missão é devolvê-lo melhor do que quando foi recebido e deixá-lo como herança para quem vai dar prosseguimento ao legado, com o desejo de levá-lo ainda mais além, com o mesmo amor e competência de quem o empreendeu.
Eis aí a delicada e fundamental receita para que o velho ditado não se realize. Ao contrário, seja superado oxalá para sempre!