Tudo começa em um jardim, descrito como um lugar de abundância, com árvores agradáveis à vista e boas para o alimento. Deus dá ao ser humano a tarefa de cuidar dele. Isso tudo está no livro do Gênesis. Quem interiorizou o jardim foi o profeta Isaías: “o Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma em lugares áridos e fortificará os teus ossos; será como um jardim regado como um manancial cujas águas nunca faltam” (Is 58:11).
Existe entre o ser humano e o jardim uma simbiose natural, que se retroalimenta. Separados, ambos morrerão à míngua. Unidos, viverão a promessa da abundância.
Sabemos que o jardim não terá condições de cuidar de si. Vai precisar de alguém para arrancar as ervas daninhas, podar as árvores frutíferas, cortar a grama. Se receber tais cuidados, será diferente de um matagal. O jardim está repleto de vida se vida lhe for dedicada.
Mesmo diante dos nossos descuidos, Deus continua agindo. Percebo isso no meu pequeno jardim, na sacada do apartamento onde moro. Observo que, devido a meus vários compromissos e viagens, as plantas ficam abatidas, principalmente nas estações em que as chuvas escasseiam. Apesar disso, existe uma magia na natureza. Desde que não morram, as plantas têm o poder de renascer e fazem isso maravilhosamente bem. Basta oferecer a elas água, sol e terra e esperar. As próprias plantas farão o resto.
Assim é o jardim do Gênesis – o de fora – e assim é o jardim de Isaías – o de dentro. O ser humano está entre Deus e o jardim. Para manter essa unidade, seria fundamental se todos fôssemos bons jardineiros e reconhecêssemos que nossos jardins são espelhos cujo brilho é proveniente do sol que nos ilumina.
Bom jardineiro é aquele que assume a sua vocação e a exerce com nobreza. Assumir a vocação é enraizar-se por meio de valores virtuosos que representam e dignificam o jardim interior, o da consciência. Exercer é oferecer esses valores por meio de gestos, também virtuosos. Por serem virtuosos, cuidam, contribuem e embelezam o jardim de todos nós, o da existência. Não sem motivo, são denominados de gestos de elegância.
Nobreza é promover a simbiose entre o jardim de dentro e o jardim de fora, entre a consciência e a existência, entre a essência e a aparência. A palavra nobreza é citada diversas vezes nos vários artigos que escrevi no presente ano, prestes a findar. E, dado o seu poder e significado, será repetida mais algumas vezes no novo ano, que está logo aí. Há um bom motivo para isso: o novo livro que se avizinha e trata justamente do tema. Nele, decifro o código de nobreza que ajuda na unidade e no alinhamento entre Deus/jardim/jardineiro.
Na esperança de um mundo melhor, desejo-lhe um nobre Natal!
Roberto, mais um texto impecável, leve como um bate papo informal, ensinamentos que a gente sente que vêm da alma.
Um Natal e novo ano com a esperança de que a nobreza nos contagie.