Muito além de uma diretoria

“Na mira das empresas: impulsionadas pelo ESG, diretor de felicidade é aposta no mercado”. Está – com indicação do Meio Ambiente, Social e Governança (como é traduzida a sigla ESG (Environmental, Social And Governance) – na sessão Carreira da revista Exame.  

A criação de uma “diretoria da felicidade” pode parecer, à primeira vista, uma iniciativa inovadora e ousada no cenário corporativo. No entanto, é necessário aprofundar a reflexão sobre o real significado da proposta. A felicidade não pode ser mais uma caixinha do organograma por meio de um cargo ou departamento. Ao contrário, deve ser cultivada como parte integrante da cultura organizacional. 

É preciso compreender, antes de mais nada, do que trata essa tal felicidade para que o tiro não saia pela culatra. Felicidade no trabalho não tem a ver com momentos isolados de celebração ou benefícios superficiais. Também não se constitui em uma alegria tanto efusiva quanto fugidia, um tipo de campanha como tantas outras. 

Se caminharmos no sentido de um ambiente de trabalho em que as pessoas se sentem valorizadas, existe sentido no que se faz e os relacionamentos são genuínos, então é possível que a tal felicidade comece a ser e não apenas parecer. 

Para isso, a diretoria da felicidade deveria ir além de ser um departamento decorativo. Teria de ser o símbolo de uma mudança mais profunda: a transformação do modelo de gestão tradicional em um modelo humanizado, centrado nas pessoas. 

Nesse contexto, a liderança tem um papel fundamental. Não basta nomear um “Diretor de Felicidade” se os demais líderes da empresa não incorporarem, em sua própria conduta, os princípios de respeito, confiança e empatia. A felicidade no trabalho nasce de práticas cotidianas que promovem o bem-estar coletivo, como a comunicação aberta, a expressão de sentimentos, a valorização do trabalho em equipe e a promoção de um ambiente que favoreça o desenvolvimento pessoal e profissional. 

Outro fator fundamental nessa proposta é a via de mão dupla. Não se trata apenas de proporcionar condições para que os colaboradores se sintam bem, mas também de estarem dispostos a participar ativamente do processo, contribuindo com sua energia, criatividade e compromisso. Essa sinergia é o que verdadeiramente impulsiona uma cultura de nobreza, calcada em valores e em gestos de elegância, estes, sim, indicativos de uma felicidade de fato. 

Em suma, a verdadeira transformação rumo à felicidade no ambiente corporativo não passa pela criação de cargos ou departamentos específicos, mas sim pelo investimento no capital relacional (redefinição das relações de trabalho e respeito pela dignidade humana) e no capital espiritual (propósito de vida e significado no trabalho).  

A suposta felicidade pode ser o início de uma jornada de transformação, em que caminham lado a lado a busca pelos resultados econômicos e o bem-viver das pessoas. Um processo, portanto, não mera figura de linguagem. 

 

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