Voe e deixe voar!

Muitos devem conhecer o conto sobre ‘águias e galinhas’ do educador James Aggrey, recontado pelo teólogo Leonardo Boff. Ele fala sobre a visita de um naturalista em uma área rural e a surpresa ao encontrar uma águia vivendo – e agindo! – como galinha. Inconformado, o naturalista tenta convencer o granjeiro de que a ave tem coração de águia e foi feita para voar, não para ciscar. Conformado, o criador retruca que, se anda, cisca e come como galinha, galinha é. E criada como galinha, desde sempre, a águia não aprendeu a voar.

O naturalista, no entanto, não desiste de mostrar à águia qual é a sua verdadeira natureza e sobe ao telhado do galpão, segurando a ave. Levanta-a em direção ao sol, dá-lhe um impulso enérgico e a solta. A águia começa a tremer no espaço, lentamente abre as asas e, com um grasnar de triunfo, alça voo.

 

Gaiola x céu aberto

 

Rubem Alves nos ensina: “se o passáro bate na gaiola, considera-se violento o pássaro; violenta é a gaiola”.

Se alguém perguntasse aos seu colaboradores para onde eles iriam para produzir a obra de arte de sua vida, sua empresa é o local que eles escolheriam?

Costumo fazer essa pergunta para vários grupos de profissionais e é muito difícil alguém responder que a própria empresa seria escolhida para qualquer feito criativo. As empresas não são tidas como lugares inspiradores. É para ser assim?

O educador Rubem Alves fala de escolas que são gaiolas e escolas que são asas. Sua abordagem serve também às empresas. Líderes de empresas que são gaiolas pensam como o granjeiro. Gostam dos pássaros engaiolados e sob estrito controle. Pássaros engaiolados perdem a autonomia. Só que isso não apaga uma questão fundamental: a essência do pássaro é voar! Faz parte de sua natureza. Negar a natureza é mutilar o pássaro. Destituído de sua essência, o pássaro é uma carcaça feita de penas. Na empresa, é o que se costuma chamar de mão de obra.

Há empresas que são asas. Elas não querem nem gostam de pássaros engaiolados. Apreciam, – isso sim! – a águia em voo. Líderes com asas compreendem que o seu papel é encorajar os pássaros a voar. Não se trata de ensinar o vôo, pois essa característica é inerente aos pássaros. Nascem com eles. Mas, como acontece na própria natureza, eles têm de ser incentivados a usar as próprias asas. E o que mais alegra o líder de verdade é ver os pássaros em pleno vôo.

Ateliê de arte

 

Empresas que são gaiolas perderam a capacidade de sonhar. Funcionam como oficinas de reparos. Resolvem problemas todos os dias. Entenda por problema o que não deu certo ontem e retorna hoje para ser corrigido.

Mas o mercado pode ser visto como um ateliê de arte. Nele, tudo está para ser feito. Esse mercado está farto de repetições. Anseia por inovações! Esse novo mercado quer produtos e serviços inéditos, criados para suprir suas necessidades. Quer ser surpreendido! Quer viver experiências novas e emocionantes, quer ser tocado no coração e na mente. Para isso, é preciso contar com a inesgotável  imaginação e criatividade humanas. Pássaros em pleno voo, portanto.

Um líder que enxerga o mercado como um ateliê de arte, prefere a aventura e assume o risco. Quando as pessoas começam a expressar a criatividade de maneira mais plena, se tornam pássaros em vôo – mais felizes do que os engaiolados.

Assim, a oficina de reparos, consertadora de defeitos, cede espaço à  usina de ideias, criadora do futuro. A transição é fundamental para o êxito de qualquer negócio, aí sim em voo inexorável rumo à abundância, inerente à verdadeira natureza de um empreendimento – algo que surge para tornar o mundo cada vez melhor!

Publicado: Administradores.com


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