Há quem acredite que mudança depende de planejamento. Assim, planejar seria a melhor forma de assegurá-la. Mas e a frustração ao constatar que as coisas se repetem, encalacram nos mesmos pontos, ano após ano. O problema das mudanças incrementais é que elas não tornam o processo irreversível e há uma força de resistência que tende a fazer com que se retorne ao ponto inicial. Essa força de resistência está relacionada à qualidade do olhar.
Os três olhares
Pode ser um olhar blasé, indiferente face à realidade. Nada enxerga de impactante, o trivial prevalece sobre o vital. Ao examinar o ano que finda, não reconhece nenhuma boa história que valha a pena ser contada.
Pode ser um olhar cristal. Aquele que, vem ano vai ano, sempre vê a mesma coisa. Nada de novo no front, apenas as velhas e surradas repetições. Cristalizado, portanto, daí a razão de seu nome. A indiferença é substituída pela repetição: “já vi esse filme antes”.
Outro olhar é o revir. Nostálgico, baseia-se na velha crença de que recordar é viver e de que nenhum futuro será capaz de superar as alegrias do passado.
Dizem que nós, humanos, não temos a faculdade de prever o futuro. Mas não é preciso ser nenhum adivinho para saber que a partir desses olhares é possível, sim, prever o futuro.
Antes dos exercícios de adivinhação, vale considerar que o mais intrigante nisso tudo é reconhecer que os olhares retrospectivos não acontecem no passado. Existem aqui e agora. São memórias presentes. Da mesma forma, os olhares prospectivos também não acontecem no futuro. Existem aqui e agora. São imaginações presentes. Em suma, tudo acontece aqui e agora. Tudo o que existe é o presente. Então porque consideramos tanto o passado e o futuro?
Uma das razões que explica nossa fuga para o passado ou para o futuro é que perdemos a grandeza do presente. Então, só nos resta eternizar o que nosso olhar já registrou. É uma tendência irreversível.
Considere, diante disso, um outro tipo de avaliação: a do próprio olhar.
Como ele está nesse momento?
A busca mais profunda
Existe, sim, uma resistência capaz de impedir que mudanças incrementais se transformem em mudanças profundas. Essa resistência tem relação direta com os três tipos de olhar. Vejamos dois outros níveis, esses mais profundos.
A começar pela renovação. Vai exigir novas premissas e a conquista da excelência. Como resultado, o cliente será surpreendido com um nível mais elevado de experiência. Um valor superior trará uma recompensa superior.
Outro nível profundo de mudança é a recriação. Equivale a empreender novamente, um reempreender. Vai exigir a redefinição do propósito e dos valores que sustentam e norteiam esse propósito.
Para começar, é preciso admitir que tudo o que se manifesta no mundo exterior é a expressão material do olhar que habita o mundo interior. Implica enxergar a realidade como ela é, resistindo ao impulso de negar a existência daquela que não se encaixa nos três primeiros olhares citados. Requer enfrentar a possibilidade de estar errado, de mudar a relação com o mundo ao redor, com a determinação de aprender e desenvolver novas capacidades.
Os níveis mais profundos de mudança, bem entendido, só serão alcançados com uma mudança de modelo mental, metanoia. É a premissa básica. O alicerce de uma construção. De uma vida totalmente nova