Manter a tradição: até quando?
Tradição é um tema controverso. Quando convivi com o povo Krahô, uma aldeia indígena situada no Tocantins, vi o quanto os mais antigos se esmeram em manter a tradição, ou seja, a transmissão de crenças, práticas, costumes e valores de geração em geração. É uma luta, não somente do povo Krahô, mas também entre nós, seres urbanos, na família, na empresa e na sociedade.
Diferentes culturas ao redor do mundo preservam suas tradições, seja por meio de rituais religiosos, festivais, arte, música, culinária e outros costumes. Quando em viagens, aprecio muito mergulhar na cultura do lugar, experimentando suas comidas, ouvindo suas músicas, assistindo suas danças.
A tradição desempenha, sem dúvida, um papel crucial na formação da identidade de indivíduos e comunidades. Conecta as pessoas ao seu passado e reforça os laços com a sua cultura e história.
O que fazer, no entanto, quando a tradição representa atraso e impede a inovação?
É bom compreender que tradição e inovação não precisam ser opostas. Foi o que tentei mostrar ao povo Krahô, enquanto convivemos. A tensão entre o velho e o novo que vivemos por aqui não é diferente daquela que também vivem os Krahôs. Presenciei um conflito em relação aos jovens que, a despeito dos mais velhos, não querem mais fazer a tradicional corrida de toras e preferem substitui-la pelo futebol. Mostrei a eles – foi tema de artigo anterior – que, mantendo o valor-raiz, no caso a união, não haveria problema se os jovens preferirem o futebol à corrida de toras. Ou ambos, para que os mais velhos não sejam contrariados.
As tradições podem servir de base para novas criações e interpretações, como acontece nas artes, na culinária ou na moda.
Mas, até quando?
Até quando representa um atraso que impede a evolução social, cultural ou tecnológica de uma comunidade. Algumas tradições perpetuam comportamentos que podem ser
prejudiciais à saúde, à segurança ou aos direitos humanos. Nesse caso, não há motivo para mantê-las.
Por outro lado, pode representar um avanço quando fortalece as raízes que mantêm a árvore viçosa. Isso acontece quando funciona como uma base sólida para a identidade, preservando a continuidade da cultura, de modo a fortalecer os valores éticos e morais.
Quando ajuda determinada comunidade – seja empresa, escola, família ou grupo religioso – a evoluir, preservando o melhor do passado enquanto se adapta ao presente e ao futuro, toda tradição é boa e salutar. Nesse caso, o melhor é trata-la com o devido respeito e cuidado!