Problema de liderado é problema de liderança, no entanto, por mais transparente que o líder seja, jamais vai dar conta dos rumores e fantasias que seus liderados são capazes de criar e produzir. É a famosa história dos fatos e da versão dos fatos, esta quase sempre prevalecendo sobre os primeiros.
E por que isso acontece?
Porque a maneira que cada pessoa tem de ver o mundo é determinada mais pelo que ela traz dentro de si do que pelo mundo externo. Não significa que o mundo externo deixe de contar, mas sim que grande parcela dele é ignorada.
A maior parte do que as pessoas veem decorre de seus modelos mentais. E esses modelos mentais abrigam ilusões, ou seja, muito do que é visto e ouvido não está lá, mas é como se lá estivesse. E a ilusão mais persistente é acreditar que o mundo em que se vive é o mundo real.
Modelos mentais consideram também projeções e transferências. Acontece com o aluno na escola que, no primeiro dia de aula, já não vai com a cara do professor. A partir daí é acionado o núcleo persecutório do infeliz estudante, para quem, em sua consolável interpretação ilusória, o professor está sempre em sua marcação, o que explica as notas tão baixas.
As projeções e transferências com o professor na escola acontecem também com o padre ou o pastor na igreja, com o patrão na empresa. O que existe em comum entre eles? Nada, a não ser o mesmo núcleo persecutório que projeta e transfere, ora para um, ora para outro, algo que está mal resolvido no mundo interno.
Um líder despreparado pode cair com facilidade na cilada de introjetar o papel que não lhe pertence. Assume uma culpa que não é sua. Com isso, drena energia na direção errada.
Mas, lamento dizer, problema de liderado é problema de liderança. Inclui o conhecimento e o autoconhecimento necessário para discernir o que é verdadeiro do que é falso. Por isso, o desafio maior do líder é ser um gestor de percepções. Das próprias percepções e das percepções de seus liderados. Aprendendo, ajustando e refinando o nobre exercício de liderar.