Nem todo chute para a linha de fundo é um tiro desperdiçado. Alguns são verdadeiros chutes a gol, ainda que não somem ao placar nem conquistem vitórias. Pertencem ao universo da ética. Exemplifico contando uma história de futebol.
Aconteceu numa tarde de domingo em Bogotá, durante o maior clássico do futebol colombiano: Millonarios versus Santafé. Naquele dia, a cidade estava às moscas, ou seja, seus habitantes lotavam as arquibancadas do estádio.
O jogo estava por terminar em empate quando Devanni, o artilheiro do Santafé, caiu na área. O juiz apitou pênalti.
Devanni havia tropeçado, ninguém o havia acertado nem tampouco tocado. O pênalti não era legítimo. Quando quis argumentar com o juiz sobre o equívoco, seus pares já comemoravam antecipadamente o gol da vitória, enquanto ele era conduzido para a marca do pênalti. A torcida delirava, sacudindo o estádio.
O goleiro, angustiado como todo goleiro na hora do pênalti, armava-se entre as traves. Devanni sabia o que tinha de fazer e o preço que pagaria naquele final de campeonato. Escolheu dar o chute certeiro. Tomou distância e, com todas as suas forças, deliberadamente, lançou a bola para fora, bem distante do gol.
Foi a sua ruína, mas também a sua glória. Enquanto viveu, mirava-se no espelho sem desviar o olhar e dormia sonos profundos em seu travesseiro macio.
Coisas de um bom futebol!
Adorei o post!!!