Quando estive na Amazônia pela primeira vez descobri que ninguém arrisca atravessar um rio se a Mãe Natureza recomenda que não é o momento certo. Resta esperar calma e pacientemente, de preferência sem estresse nem ansiedade, o momento em que ela dará o alvará de licença para a travessia.
A natureza é mestra, também aprendi na Amazônia. Não há soberba capaz de suplantá-la. Assim, para nós, frágeis mortais, cabe assumir a humildade que tanto evita o nosso guerreiro interior tão arrogante. Todos conhecemos histórias de gente que tentou usurpar as leis da natureza e pagou com a vida. Daí o dito popular: “Deus perdoa, mas a Natureza não”.
Das lições vividas na Amazônia resultou um livro a que dei o nome de “O Devir”. Para esclarecer, devir é um “vir a ser”, ou seja, algo que já somos potencialmente, mas ainda não revelado, de fato. A paciência faz parte do devir de cada um de nós.
Algumas vezes, a natureza humana toma o leme da vida em suas mãos e, sem nenhuma pressa, deixamos que o tempo dê tempo ao tempo. É quando, no mercado ou na empresa, percebemos que não está na hora de avançar e o melhor é aguardar uma oportunidade que, na hora certa, vai ampliar os horizontes. No âmbito familiar, também sabemos que devemos aguardar que desabroche o pleno potencial de um filho, que durante um tempo persiste em não evoluir, ao invés de forçar a barra e pisotear a autoestima dele.
A paciência é uma virtude que consegue transformar ansiedade em serenidade, impetuosidade em discernimento, agitação mental em paz de espírito. “Muita calma nessa hora!” é o que ela diz aos nossos demônios prestes a desembestar. Muita alma nessa hora é a lição que a paciência nos oferece para que cheguemos ao melhor resultado, elevando a qualidade de nossas decisões e ações.
Não se trata, no entanto, de esperar sentado, deixando que o destino determine o que devemos fazer e quando devemos agir. A natureza está sempre ocupada pacientemente, de forma velada ou revelada. Aprendamos, pois, com a mestra.
Abençoado aquele que consegue sincronizar a sua própria natureza com a natureza exterior, fazendo da vida uma aventura fértil. Não por acaso Paulinho da Viola recomenda: “faça como um velho marinheiro, que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar”. No leme, quem aprende a lição está convicto de que tudo vai acontecer do jeito certo, na hora certa. Amém!