Lição de jarinagem

Jarinagem? O que é isso? Antes de eu lhe dizer do que se trata, atente para o diálogo a seguir:

– Atender súplicas de funcionários? Eles é que têm de atender às minhas – vociferava a líder, incomodada com a aplicação do ICR (índice de capital relacional) em sua empresa. 

Os indicadores mostravam problemas com a qualidade das relações diante das súplicas apresentadas no livro Capital Relacional.

– Eles estão aqui para trabalhar, não para serem paparicados – insistia a líder, ainda bastante desconfortável. 

– Você almeja bons resultados na empresa, não é mesmo? – sugeri, desviando o argumento no sentido do predicado dos resultados. Nem sempre a qualidade das relações é convincente, principalmente quando os humores estão alterados. 

A pergunta fez com que ela respirasse um pouco e eu pudesse continuar com minhas premissas. 

– Os piores resultados surgem quando a liderança adota uma relação em que os colaboradores são meios e lhes impõe uma agenda de afazeres que não lhes dizem respeito. Adotar tal atitude leva os colaboradores a manter-se emocionalmente distantes e descompromissados dos objetivos e metas da empresa.

Como havia conseguido captar a atenção dela, continuei:

– Quando o líder oferece uma base segura e um ambiente favorável, os integrantes da equipe costumam dar o melhor de si. 

– Não noto essa disposição – ela sussurrou, ainda cética. 

– Pois acredite: eles querem um ambiente no qual possam aventurar-se para explorar, aprender algo novo, conquistar, evoluir. 

Embora ainda desconfiada, a escuta estava, agora, mais atenta.

– É bom quando os colaboradores aprendem a controlar a ansiedade, concentrando-se no que importa. E o que verdadeiramente importa são as relações, o aprendizado, a entrega.

– Então, o que devo fazer?

A pergunta, embora remetesse a algo prático, apresentava um humilde prenúncio de vontade. 

– Os melhores resultados vão surgir quando você se relacionar com os colaboradores correspondendo aos interesses, necessidades, humores e capacidades deles.

O rosto, antes crispado, começava a se distender.

– Crie um clima positivo, com conversas agradáveis. Que tal sorrir um pouco? – argumentei.

Embora ainda contrariada, a líder exibiu um sorriso tímido.

– Demonstre afeto e consideração por eles, individualmente  – acrescentei.

– Simples assim? – indagou, agora com fina ironia.

– Sim. E torne as rotinas deles mais flexíveis para que possam recriar, por si mesmos os trabalhos.

– Por onde devo começar?

– Pela sua intenção. Você pode vê-los como sendo os seus fornecedores ou como você sendo fornecedora deles. O sentido da seta faz toda a diferença.

Enquanto ela respirava, agora mais confiante, conclui:

– Saiba que tudo isso vai acontecer se você se importar verdadeiramente com eles. Experimente!

Como boa “jarina”, ela se dispôs a tentar. E tantas são as jarinas com vontade de acertar por aí. 

Se você ainda não sabe, Jarina é a personagem principal do livro Capital Relacional. Trata-se de uma liderança intermediária que resolve fazer uma reviravolta na empresa em que trabalha. A partir do nome dela, inventei o termo “jarinagem” para dar exemplos de exercícios de liderança tais como esse discorrido acima. 

Em todas as empresas existem as jarinas, aquelas lideranças também denominadas no livro de “fiéis da balança”. Aguarde! Outros exemplos virão por aí.

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