Garanta boas recordações

Poder e controle constituem o afrodisíaco de muitos líderes. A ponto de – acredite se quiser – alguns preferirem perder oportunidades a perder o poder ou os resultados a perder o controle. 

Quando submetidas e controladas, as pessoas fazem menos, ou seja, nessas condições nunca fazem mais. Em situações normais, tal menos pode ser suficiente, mas não em um cenário atípico como o que estamos atravessando. 

Quando as pessoas se juntam é para realizar mais, não menos – vale repetir. É o que se espera de uma equipe. Nas circunstâncias atuais, precisamos especialmente de uma inteligência de grupo e da criatividade coletiva. As empresas necessitam, agora, de respostas inéditas, não das conhecidas e surradas.  Inovação, aquela palavra revestida de nobreza no mundo dos negócios, deixou de ser discurso para ser condição.

Trata-se de um paradoxo, mas justo quando estamos separados, mais do que nunca temos de estar juntos em espírito, em intenção. 

A participação costuma render bons frutos. Foi sempre assim, mas talvez você não tenha percebido. Então, constate a partir do que possa ter vivenciado pessoalmente ou via algum de seus amigos empreendedores. Aconteceu, por exemplo, quando um incêndio irrompeu no depósito e todos tiveram que arregaçar as mangas empenhados em debelar o perigo, cada um com suas habilidades e conhecimentos ou dons e talentos, sem atentar para a extrapolação do horário de trabalho nem ganhar alguma recompensa por isso.

Quem sabe o mesmo tenha se repetido no momento em que uma loja foi inundada pela enchente e todos ofereceram seus esforços para salvar as mercadorias e proteger os móveis e equipamentos. 

A solidariedade costuma se repetir em catástrofes não apenas climáticas, mas também internas, como um eventual desfalque, surpreendendo positivamente. 

Sabe porque dá certo? Porque nessas horas não existem poder e controle nem ninguém lhes ordenando o que devem ou não fazer. Cada um sabe o que lhe compete e dá o seu melhor. Não há hierarquia para submetê-los nem cargos ou funções capazes de reduzir suas competências. 

Até hoje, quando todos se reúnem para conversar descontraidamente ao final da semana no chopinho da sexta-feira, sabe quais são os assuntos em pauta? 

Não, o pessoal não se ocupa do último planejamento estratégico nem da derradeira campanha de marketing ou da compra da versão tecnológica mais avançada. Nada disso. Eles gostam de repassar as tragédias vividas e o quanto que ofereceram para resolver os problemas. Lembram dos atos heroicos, das ideias que surgiam sem que soubessem qual era o autor, da relação de ajuda, da sinergia de grupo, do espírito de equipe. E contam e recontam essas histórias enchendo o peito de orgulho.

Faço um paralelo da quarentena gerada pela pandemia com os incêndios, as inundações, os desfalques, as concordatas e outros dramas que desordenam a sua e outras empresas.  Para sair dessa, olhe para o que deu certo antes. Você verá que na volta por cima de todo e qualquer drama, sempre existiram espíritos humanos unidos num mesmo propósito.

Junte as pessoas. Dê a elas a grata oportunidade de compartilhar, no futuro, num final de tarde de uma sexta-feira de verão, a recordação daquela vitória sobre o intruso que abalou o mundo, naqueles idos anos de 2020.

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