Faça as contas, mas aposte nos contos.

A Policia Militar não entra em acordo com a Datafolha. Eles não acertam a conta. Nem seria um grande problema se a diferença entre as duas enquetes não fosse muito distante. Claro que estou me referindo às manifestações de rua, mas nesse caso as questões políticas se sobrepõem à lógica dos números. As contas são umas, os contos são outros. Transferindo a questão para o ambiente da empresa, será que não acontece o mesmo nas divergências entre os contos e as contas?

Empresas são geridas por números. Algumas até exageram nas contas: fixam o placar para depois iniciar o jogo. Por mais insano que pareça, é isso que se pratica em muitos ambientes, com o nome de planejamento financeiro ou orçamento: fixar os números na expectativa de que eles aconteçam conforme o planejado. Ou seja: espera-se que as contas deem conta dos contos, desculpando-me agora mesmo pela redundância das palavras. É claro que não dá certo, mas dada a necessidade de controle dos gestores (as contas), é isso que incansavelmente se faz, a despeito das frustrações frequentes com os resultados (os contos). E de nada adianta torturar as contas, elas jamais vão declarar o verdadeiro conto. As contas não conseguem contar toda a história.

Empresas se orientam por estatísticas. Na tentativa de fugir das armadilhas dos pressupostos geradores de paradigmas, elas recorrem às pesquisas com os clientes. É claro que saber o que eles pensam e sentem é fundamental para calibrar a oferta a suas necessidades e é para isso que existem as pesquisas de campo. O problema é que o essencial (os pensamentos e sentimentos dos consultados) reduz-se ao acessório (as estatísticas). Transformado em um dado numérico impessoal e frio, índice ou percentual, tudo o que se consegue a partir daí é oferecer soluções técnicas para desafios que exigem respostas criativas. Dificilmente a criatividade dá as caras diante das contas. Estas, afinal, estão longe de inspirar. A criatividade prefere os contos, as histórias por trás das imagens construídas a partir da atenção, interesse e empatia pelos clientes, suas demandas, necessidades e desejos.

Delfim Neto dizia que os “as estatísticas são como o biquíni: mostra tudo mas esconde o essencial”. E o essencial está mais no conto do que na conta, mais no jogo do que no placar, seja ele previamente fixado ou resultado final da partida. As contas estão para os gestores assim como o poste está para o bêbado: como ponto de apoio, não de iluminação. Os números e as estatísticas dão apoio e suporte às decisões, mas não espere que eles forneçam a luz necessária às ideias e soluções criativas.

O desafio não está em mais informações, estatísticas ou números. Conheço empresas que possuem um eficiente sistema de dados e de análises, mas os resultados não evoluem. As pessoas conquistam resultados apesar dos números e não por causa deles, pode acreditar! Elas conquistam resultados por suas competências pessoais, complementadas pelas de seus pares, formando uma poderosa competência de equipe , que se constitui  em competência do negócio, algo capaz de oferecer uma resposta que vai muito além das expectativas do cliente. Isso, sim, é o que faz resultado para valer!

Depois do conto, resta fazer as contas. E os resultados, sim, aparecem com naturalidade. Experimente e comprove!

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