Tração é o mesmo que força. Um veículo com tração nas quatro rodas é mais eficiente, claro, do que os limitados às duas rodas, sejam dianteiras ou traseiras. No campo pessoal, podemos dizer que a nossa tração é aquela que concentra energia e nos torna mais capazes, tanto para resolver problemas como para criar e realizar.
Dis-tração, por outro lado, é o que dilui a tração para outras direções, fora do foco do nosso interesse.
Nós nos distraímos com facilidade e, hoje, todos nós portamos um distrator como extensão do nosso corpo: o celular. Fácil de levar e de acessar, faz com que a gente carregue nada menos que o mundo nas mãos. Não é raro consultá-lo várias vezes ao dia, até mesmo durante atividades que pedem completa concentração, enfraquecendo a tração para o que verdadeiramente importa.
Vivemos nesse jogo de forças entre a tração e a distração. A tração é fundamental para resolver problemas, construir e criar algo, desempenhar um ofício e realizar qualquer trabalho com excelência. Quanto mais intensa for essa energia, mais bem-sucedidos serão os resultados. A distração, quando rouba a cena, tenta nos levar para outro lado, incentiva a procrastinação que nos distancia do que precisa ser feito ou nos leva a negligenciar realizações.
Afinal, o que fazer diante dessa realidade que a tecnologia nos trouxe?
Primeiramente, decidir quem está no comando. Se for o celular, prepare-se para se deixar escravizar. Com a nossa privacidade rastreada, o comandante nos leva para onde ele quiser, inclusive nos seduzindo ao saber quais são as nossas preferências. Se for esse o seu caso, fatalmente você terá de deixar de lado o essencial, abandonando-se ao trivial. A começar pela onipotência da pequena tela que nos absorve, enquanto a vida, no imenso plano ao nosso redor, passa sem ser notada.
Esquecendo do essencial, é comum tornar-se presa fácil dos velhos sabotadores: a desatenção (ausência de atenção), o desalinhamento (ausência de ética) e a desesperança (ausência de ânimo).
Vale a pena submeter-se a tal comandante?
Melhor é colocá-lo em seu devido lugar, como utilidade eventual, pois, na essência, ele não nos representa, não nos enriquece e rouba o que temos de mais precioso: o tempo. Se destinado às boas obras, o tempo de que dispomos contribuirá para que nos tornemos seres humanos melhores.
Quem deveria, então, estar no comando?
A consciência. Aquela que melhor nos representa, que nos permite uma percepção mais ampla da realidade. A ela devemos a clareza da razão de nossa existência, fazendo com que usemos plenamente nossos dons e talentos para que possamos ser mais presentes e proativos nesse projeto de vida em que todos estamos envolvidos.
A consciência inclui a disciplina de discernir entre aquilo que podemos daquilo que nos convém.
A consciência é o que vai aumentar a nossa tração. Pois então, dê a ela o lugar que lhe cabe: o de comando!