No artigo anterior, ‘Empresa: vocação econômica’, falamos sobre as incoerências entre o desenvolvimento humano e econômico. Como encontrar o equilíbrio entre os dois foi a questão que ficou em aberto e que buscaremos clarear nesta segunda parte.
O projeto humano
A formação escolar, sem dúvida, tem um importante papel. Também o Estado e as religiões. Mas é no trabalho que o adulto consciente e com autonomia para fazer as suas próprias escolhas é capaz de realização e autorrealização. E pode construir, enquanto se constrói. Transformar-se, ao mesmo tempo em que transforma. E fazer da existência uma oportunidade de bem viver e bem estar. Exatamente porque o trabalho está presente na maior parte de sua maturidade.
Para que o projeto humano seja assumido pelas empresas, algumas mudanças terão de acontecer, a partir do modelo mental de suas lideranças. A primeira delas é conscientizar-se de que o desenvolvimento econômico não está em conflito com o desenvolvimento humano. Ao contrário. Quanto mais o humano cresce em consciência e em competência, maior o desempenho e o desenvolvimento econômico. Quanto mais o econômico se desenvolve, maior a sua força e poder para promover o desenvolvimento humano.
A segunda mudança é conscientizar-se de que uma empresa não é apenas uma organização produtora de bens e serviços, com a finalidade de recompensar financeiramente os envolvidos. Este aspecto é uma consequência, um efeito colateral. Uma empresa é uma comunidade de trabalho em que as pessoas que a integram são capazes de aprender e evoluir como seres humanos, enquanto constroem riquezas para toda a sociedade. E são capazes de aprender e evoluir porque este é o real propósito do empreendimento.
A terceira mudança é conscientizar-se de que o ser humano não é incompleto. Ao vê-lo dessa forma, corre-se o risco de considerá-lo imperfeito, alguém que necessita de reparos e consertos para funcionar a contento. E que, se funcionar conforme as expectativas, recebe recompensas financeiras e materiais para preencher a sua incompletude.
A pergunta certa
Quando a pergunta é “o que funciona?”, tão comum nas empresas que colocam o econômico antes (ou no lugar) do humano, a tendência é fazer do ser humano um fator de produção, mais descartável do que qualquer outro. Mas se a pergunta é “o que verdadeiramente importa?”, então o ser humano poderá ser visto como verdadeiramente é: um ser inacabado.
Ser inacabado é diferente de ser incompleto. Ao inacabado, nada lhe falta. É inteiro, com seus conhecimentos, habilidades, inteligências, dons e talentos. Mas ainda não está pronto. E é por meio do trabalho que vai conquistar o seu acabamento, seu polimento, a eliminação das rebarbas, a descoberta do seu melhor, da sua verdadeira vocação: a de ser pleno, integral, inteiro. Um todo, indissolúvel e cada vez mais amplo e sublime. Criado para criar e brilhar. E a empresa cresce, refletindo e ampliando seu brilho.