O problema são as referências. Nem sempre as melhores, nem sempre corretas. Mas, ao tomar algo como referência, a tendência é copiar. E, como diz o ditado, quem imita as ondas apenas dá cambalhotas.
O assunto aqui é liderança, que é e sempre será um tema instigante. As referências históricas recaem sobre Henry Ford, Walt Disney, Jack Welch, Steve Jobs. Todos foram líderes bem-sucedidos, embora com características muito diferentes. São alguns do mundo dos negócios. A regra é a mesma se considerarmos gente famosa na política: Winston Churchill, Charles De Gaulle, Abraham Lincoln, Theodore Roosevelt. São referências pela relevância que tiveram.
Estudiosos e pesquisadores tentam encontrar um padrão comum que os defina, sem êxito. Por outro lado, quando se trata de organizações, o planeta nunca sentiu tanta falta de bons líderes. Como disse John Doerr, conhecido investidor do Vale do Silício, “no mundo de hoje há uma abundância de tecnologia, de dinheiro, de capital, de produtos, de marketing. O que anda escasso são bons líderes”. Vale para as organizações e também para as nações.
Voltemos ao começo, quando eu disse que o problema são as referências. Se o tema lhe interessa, seja você líder ou almeje ser, responda: o que busca? Muito sucesso ou muitos desafios?
Ainda que a resposta lhe pareça óbvia, não se apresse e considere o seu ímpeto.
O mito da liderança
“Fulano é um líder nato!”, já ouviu isso antes? Como se tal característica estivesse no DNA, comprovando que “filho de peixe é peixinho”. Ser líder é destino, o mito apregoa. Está determinado para alguns e não para outros.
O mito alimenta a imagem do líder como ídolo. O ídolo, no entanto, possui duas contraindicações: a primeira está no complexo de Chantecler, nome do galo que cantava todas as manhãs, convencido de que o sol nascia devido a seu chamado; a segunda está no distanciamento que o ídolo mantém dos seus idólatras, gerando atitudes subservientes e mitigação.
O líder nato é um amador de primeira hora. Lidera por instinto e usa mais o autoritarismo do que a autoridade. Obtém a obediência, mas não conquista corações e mentes. Ao mirar-se no ídolo, seu entendimento de liderança enaltece ainda mais a ilusão do poder, do controle, do comando e do líder como fonte do conhecimento.
É possível que o líder autoritário se transforme em ídolo, como os já citados, mas o ídolo não é a referência correta de um líder. E, como eu já disse, o problema está na referência.
Mude a referência
Para começar, liderança não é cargo, nem função ou ciência. Por isso, a ciência da administração tem ajudado na formação de executivos, mas não de líderes. Executivos servem às organizações, mas comunidades de trabalho preferem líderes de verdade. Com quem e onde as pessoas gostariam mais de trabalhar? Faça sua própria pesquisa para comprovar.
A referência precisa mudar. No lugar do ídolo, o ícone. Um líder-ícone é exemplo. Uma obra cresce em conhecimentos quando o líder cresce em conhecimentos. Uma obra se desenvolve emocionalmente quando o líder se desenvolve emocionalmente. Uma obra evolui espiritualmente quando o líder evolui espiritualmente. Uma obra se expande em consciência quando o líder se expande em consciência.
Na ausência do líder-ícone, seus colaboradores perguntariam “o que o nosso líder faria nessa situação?” Sim, porque o que norteia as decisões são os valores do líder-ícone, lançando luzes sobre o trabalho e a vida dos liderados.
O ídolo pode brilhar, mas quem ilumina é o ícone.
Mude a referência!