Sem dúvida, os atritos diários são muitos e às vezes parecem se concentrar no mesmo período de tempo, seja naquele ano, mês, semana ou dia. E, na sequência e contundência, não há quem aguente! Tratamos de nos resignar.
Resignar-se pode ser visto como algo positivo, referente a alguém que enfrenta os dissabores sem se abalar. Há quem considere tal atitude como algo próximo da serenidade. Mas não é. A resignação – e aí mora o perigo – costuma estar mais próxima da acídia.
Sei que acídia não é uma palavra usual, mas o Velho Taful, no livro “O velho e o menino”, explica o seu significado: enfraquecimento da vontade.
Quem não conhece ou já presenciou essa realidade? “De tantas bordoadas, fulano resignou-se, ou seja, deixou que a acídia tomasse conta e, hoje, prostrado, acomodou-se diante dos desafios. Não possui mais vontade, muito menos força de vontade, para enfrentar a lida.” É o que comenta o personagem.
Todos nós somos portadores de uma chama, que está em nosso interior. Pode estar quase apagada, quando permanecemos em estado de acídia, pode estar meia-boca, ou seja, acionada por alguma vontade não relevante, ou – e esse é o desejável – estar incandescente e chamejante.
Para que a terceira opção aconteça é preciso deixar de resignar-se para designar-se. Os verbos não têm nenhuma semelhança, como bem demonstra a velha história do rapaz que vai ao encontro de um grande mestre sufi e diz:
“ –Minha confiança em Deus é tão grande que nem amarrei o meu camelo lá fora. Eu o deixei à providência de Deus, aos cuidados dele.
Ao que o mestre prontamente observa:
-Volte lá e amarre o camelo ao poste, seu tolo! Não é preciso incomodar Deus com algo que você mesmo pode fazer.”
O conto ajuda a esclarecer a diferença entre a mentalidade de destino, como a do rapaz, e a mentalidade de desígnio, como aquela que ajuda Deus a nos ajudar.
Designar-se é, portanto, fazer o que precisa ser feito hoje para mudar o curso da história amanhã. Sem resignação!