Não basta combater a escassez. Nem vale a pena vencer a ingrata luta pela sobrevivência. De nada adianta aliviar a miséria da existência humana. Inútil eliminar o transe e o medo que assolam o planeta. Existe uma legião viciada em controle, poder, dinheiro, preocupações e falta de fé. Essa batalha é inglória se pensarmos apenas no mundo do lado de fora.
A sabedoria budista nos ensina: “Bebida pela vaca, a água se transforma em leite; bebida pela cobra, a água se transforma em veneno. A água é a mesma. ”
O que, então, podemos fazer diante das mazelas feitas de sangue, suor e lágrimas?
Vamos nos transformar em seres humanos que, diante das mesmas águas, produzam o melhor néctar.
O néctar, na Grécia antiga, era a bebida dos deuses do Olimpo, segundo a lenda. Causava a sensação de deslumbramento; encantava. Suscitava consolo e conforto. Trazia alento aos viventes. Um elixir para a vida.
O néctar, claro, é uma metáfora que representa tudo o que podemos oferecer para promover a vida. Em lugar de murmúrios e reclamações, podemos oferecer a palavra certa na hora certa. Diante de difamações e detrações, tratemos de realçar os pontos positivos de uma pessoa ou situação. Face a atrocidades, vamos contribuir com pequenos gestos. Em vez de sofrer junto, é justo que evitemos acrescentar mais dor a um quadro já difícil. Ou seja, nada de lançar uma segunda flecha no lugar onde a primeira flecha se fixou.
Ao invés do transe, o êxtase; do entorpecimento, o maravilhamento; do medo, o amor.
Proponho que cada um de nós assuma o compromisso de ser sal e luz no mundo, trazendo alívio e alegria aos que nos cercam. Vai dar certo, se soubermos, antes, transformar a água no néctar mais precioso. Experimente e verá como tudo em si e ao seu redor adquire melhores e mais sublimes significados.