Imagine que você resolve ir ao cinema. Algo que considera, de fato, um passatempo prazeroso. Tanto que se sente muito bem e alegre quando sai em busca de um filme. E, no final da sessão deixa escapar um “Valeu!”. O bem-estar e a alegria duraram o instante em que permaneceu na sala de projeção. Talvez um pouco mais. É muito provável, porém, que no final do dia ou na manhã seguinte você nem se lembre mais do filme que assistiu. Foram momentos efêmeros de prazer.
Imagine que você resolve ir ao cinema. Algo que considera, de fato, um passatempo prazeroso. Tanto que se sente muito bem e alegre quando sai em busca de um filme. Mas você não quer assistir qualquer um, dentre os que estão em cartaz. Busca aquele que lhe traga um senso de propósito. Mais do que o entretenimento em si, está à procura de algum tipo de aprendizado. Algo que mexa com a sua consciência. Talvez com um toque existencial ou intelectual, ou, quem sabe, de grande valor estético, pela beleza das imagens ou da trilha sonora. É bem provável, então, que as sensações daquelas poucas horas em que permaneceu na poltrona, diante do telão, se estendam por todo o dia, talvez por toda a semana, quiçá por toda a vida.
Viu como é possível fazer o tempo render? Ao comparar as duas situações, notou que a palavra que dá elasticidade ao tempo é propósito.
Talvez você esteja pensando “ah, que cara chato, eu só quero me divertir e matar o tempo”. E não há nada de errado nisso. O que faz mais sucesso nos cinemas são os blockbusters passageiros, repletos de efeitos especiais, feitos para capturar a atenção dos espectadores por duas ou três horas e depois vender alguns produtos correlatos. Não mais que isso. O preço de um instante. Adequado para matar o tempo.
Mas acontece que o nosso tema não é sobre passar nem matar o tempo. É a respeito de como fazê-lo render. E, para tanto, o efêmero precisa dar espaço ao permanente e o superficial, ao significativo. E nada disso vai acontecer sem que o propósito esteja presente.
A escassez de tempo que muitos de nós sentimos está relacionada aos vários fatores que disputam e dispersam a nossa atenção. Aliás, distrações não nos faltam. E onde está a nossa atenção é determinante de uma vida mais ou menos profícua. Aquilo em que prestamos atenção e que fazemos por inteiro, com todos os sentidos, determina a qualidade da nossa experiência.
O propósito tem o poder de canalizar a atenção para que as nossas experiências não sejam tão efêmeras e superficiais, mas ofereçam algum tipo de aprendizado e significado. Por isso, a atenção – um santo remédio para a sensação de vazio – é uma virtude, para quem almeja ser rico de verdade. Pratique-a, sem restrições!