Talvez você estranhe o título, mas certamente não o sentimento. Todos nós já experimentamos o modo túnel. Ou você nunca teve aquela sensação angustiante de atravessar indefinidamente um túnel, sem que nada mais lhe chame a atenção a não ser a expectativa de se deparar com aquela luzinha ao final?
O modo túnel nos coloca na situação de não ver nada ao redor, exceto o próprio túnel. Emocionalmente afetados, nenhum pensamento são povoa a nossa mente, a não ser aquele que nos conduz a uma única direção. À mercê de um ambiente estreito, a nossa visão se contrai e, uma vez embaçada, desconsidera qualquer outra alternativa.
Se pensarmos nas situações em que entramos no modo túnel, constataremos que, na maioria das vezes, isso ocorre por conta de crises nos relacionamentos. A toxidade das relações mal resolvidas resulta no modo túnel, um estado de transe que impede a nossa capacidade de discernir e tomar decisões com lucidez.
O modo túnel deriva do cérebro límbico, aquele que trata das emoções, sejam agradáveis ou desagradáveis. Quando algo negativo acontece nas relações, o cérebro límbico vai buscar um similar no passado. A partir daí, parte é realidade – o fato ou evento ocorrido –, outra parte é fantasia, uma reprodução inexata do vivenciado. É aí que o modo túnel entra em cena. A fantasia acaba predominando sobre o fato e, na sequência, não se trata mais da história real, mas da fantasiosa que aumenta de tamanho na medida em que, anestesiados, caminhamos pelo túnel. Tal qual as imagens fantasmagóricas da caverna de Platão, o modo túnel provoca miragens que só existem na mente de quem está acuado e cada vez mais distante da realidade.
Sair do modo túnel exige certo grau de consciência e de distanciamento do fato que o causou. Implica impedir que ele sirva de gatilho para evocar acontecimentos desagradáveis do passado. Para tanto, é preciso manter-se com os pés firmes na realidade, sem deixar que as conjecturas equivocadas prevaleçam.
A estratégia mais bem-sucedida para não entrar no modo túnel é dirigir-se diretamente à fonte do desentendimento e conversar com o outro sobre as reais intenções que provocaram o evento. Na maioria das vezes constataremos que, por trás do que nos parece desagradável, não havia má intenção. Ao alinhar gestos com intenções, veremos que tudo se esclarece.
Pense quanto sofrimento teria sido evitado se, para além dos fatos, conversássemos sobre as intenções. Considere, também, como eliminaríamos registros negativos de relações passadas para impedir que o cérebro límbico se alimente delas.
Viver é uma arte, assim como relacionar-se. O Capital Relacional trata dessa riqueza. Beba, pois, da fonte inesgotável!