Há quem acredite em empresa feliz. Eu não, pois desconfio da sua existência. Para quem apregoa há décadas a empresa de corpo, mente e alma – escrevi um livro sobre o tema – atribui-se automaticamente à alma a promessa da tal felicidade.
Empresa feliz me lembra oba-oba e um ambiente de trabalho em que o líder é impedido de manifestar suas insatisfações e aos colaboradores recomenda-se deixar os problemas em casa e viver o trabalho em plenitude e total otimismo. E sem misturar as estações, como se isso fosse possível.
O que seria, então, um substituto real para a fantasia da empresa feliz? Respondo: uma empresa interessante.
Pressinto, no entanto, o semblante amuado do leitor esperando por um adjetivo mais impactante. Arrisco, então, argumentar e oferecer significado ao que proponho, na certeza de fazer com que a palavra seja apreciada, aspirando que esteja presente na empresa em que você trabalha ou naquela em que é líder.
Recorro ao enciclopedista Antonio Houaiss para definir o que é “interessante”: a qualidade do que retém a atenção, do que prende o espírito. Ou seja: é o estado de espírito que se tem para com aquilo que se acha digno de atenção.
Uma pessoa interessante é aquela que cativa por sua maneira de pensar, cultura ou personalidade. Uma empresa interessante não é diferente. É aquela que não entedia nem é maçante, pois desperta o interesse e motiva.
Interessar-se é dar atenção a algo ou alguém. De maneira prática, uma vida interessante é aquela vivida no estado de amorosa atenção. Se você vai escrever, preste atenção na caneta que vai lhe prestar o serviço e no desenho das palavras escolhidas cuidadosamente. Evite palavras vazias, dando espaço às que despertam interesse genuíno, porque são portadoras de vida.
O mesmo vale se quem vai lhe prestar igual serviço for o computador. É com interesse e gratidão que reconhecemos as múltiplas possibilidades que esse equipamento oferece.
Se o celular tocar, atenda com cuidado, não distraidamente. Interrompa o que está fazendo e coloque-se à disposição da pessoa que está do outro lado da linha. O interlocutor percebe o grau de interesse e disso resulta a qualidade de relação e da conversa.
Se alguém bate à porta, abra-a. Olhe com atenção para a pessoa que entra. Feche, portanto, a porta para as ocupações e preocupações, abrindo a porta interior de maneira a concentrar-se, naturalmente, em quem chega.
A porta é a metáfora do coração. Fechar-se ou abrir-se é o exercício contínuo de interesse. Assim pode acontecer o real encontro com a vida que pulsa.
Uma empresa interessante é composta por pessoas interessantes que trabalham de forma interessante e, por isso, atrai outras pessoas interessantes. Tal estado não evita conflitos e divergências, diferentemente do que ocorre em uma empresa feliz, onde se acredita apenas na paz e na harmonia a qualquer custo.
Se o adjetivo ainda não cativa o leitor, apelo por um dito muito comum no interior ao se descrever uma mulher grávida: diz-se estar em estado interessante. Dar à luz é o ato de criação humana mais próximo do ato da criação divina. Gerar vida é a maior cumplicidade que pode haver entre o Criador e suas criaturas.
Almeje, portanto, uma empresa em estado interessante, que esteja grávida de almas e ávida de luz.
Roberto, acredito que seus comentários e considerações foram cirúrgicos! E tudo é uma Jornada. As empresas buscam ser interessantes, porém se quer têm clareza de como ser! Por isso esse apoio, frustrações, tentativas e acertos vão moldando toda tríade! Buscar o equilíbrio é muito interessante, da mais força e significado! Obrigado pela inspiração de sempre!!!