Conhecimento, uma vez adquirido, costuma despertar a sensação daquele dar-se por satisfeito, nas pessoas. Remete a algum tipo de conclusão e, como se diz na linguagem de informática, “fechamos os arquivos”. Conhecer é encerrar o fluxo do pensamento. Não há mais o que refletir, tudo se sabe.
Há quem goste de ponto final. Terminou. Acabou. Finito. Eu prefiro reticências. Ajudam a continuar aprendendo. Mostram que ainda não há conclusões. Pode ser, pode não ser. Os arquivos mantêm-se abertos, permitindo aos pensamentos alçarem voos mais altos, longínquos, sem fronteiras. Existe sempre um patamar superior a ser alcançado.
Eis a diferença entre uma explicação e uma narrativa. No primeiro caso, feita, finda-se a busca. Segue-se o silêncio de caso encerrado. Tudo está tão compreendido quanto consumado. E a compreensão é o fim da curiosidade… e do aprendizado.
Narrativas são diferentes. Podem ser repetidas inúmeras vezes e interpretadas com algo mais não incluído antes. “Conte de novo”, diz a criança, quando ouve uma história pela milésima vez. Dificilmente, diante de um esclarecimento, ela dirá “explique de novo”. Ensinar, portanto, é narrar, não explicar.
Explicações exageram sobre o mundo de fora. É por isso que a ciência não atinge o patamar da arte. Parte do pressuposto de que, ao elucidar, tudo está resolvido. Não admite que se discuta o que foi comprovado cientificamente. A arte não explica nem pretende fazê-lo. Quando estamos em contato com a literatura, o teatro, a música, gostamos de reler, ver e ouvir muitas vezes. Aliás, as repetições podem ter o gosto da primeira vez, pois não dependem do mundo de fora, mas sim do quanto o mundo de dentro está sendo tocado. Já não aconteceu de aquele verso de certa canção ter, repentinamente, despertado algo diferente em você, embora já a tenha escutado dezenas de vezes sem que tal sensação viesse à tona?
A ciência ajuda na ativação dos cinco sentidos, mas é a arte que desperta o sexto! Blaise Pascal sabia muito bem o que dizia, ao afirmar que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Aprendizado é algo que se restringe ao intelecto, mas aprendizagem é quando alguma coisa acontece em nossos corações. Nessa hora, o verso da velha canção se renova. E a gente pede bis.
No meu comentário…
Há uma expressão usada lá nos meados do século XIX que dizia, “Há quem julgue corruptela de meter-se nas encóspias” e que nos tempos, foi se modificando, apresentando-se como “recolher-se em copas”…
Existem várias apresentações dessa expressão… Mas, a que achei mais interessante é a que tem a ver com o texto, a questão da conclusão, do encerrar, do dar-se por satisfeito! É a que se refere às copas das arvores que de tão fechadas e densas não deixam o sol passar e são mais facilmente abatidas pelos fortes ventos…
Concordo com o Roberto, tanto no uso das reticências como não se fechar para a curiosidade e o aprendizado.
Excelente texto.
Sandro
Obrigado pelos comentários e pelo aprendizado.
Não sabia das encospias e recolher-se em copas.
Bom aprender.
Abraço.