Às vezes, não se sabe de onde, uma palavra não muito usual surge em nossa mente. Isso acaba de acontecer comigo e a que emergiu foi “escrúpulo”. Fiquei surpreso vendo-a se apresentar, sem pedir licença.
Gosto do étimo e fui investigar. Do latim, scrupus significa rochedo e tem como diminutivo scrupulus, que quer dizer pedra pontiaguda. A descoberta aguçou ainda mais a minha curiosidade. Notei que o sentido se estende para dificuldade, inquietação, incômodo. Ao descrever o desconforto causado pelo contato da pele com uma pedra pontiaguda, os antigos romanos o assemelharam à uma inquietação ética. Foi aí que a palavra ganhou o seu espaço mais na esfera moral do que material.
Seguindo a sua origem, escrúpulo é como uma pedra no sapato sobre o caráter correto ou incorreto de algo que se faz ou se pretende fazer. É um indicador moral quanto a decisões e comportamentos que poderão ser considerados escrupulosos ou inescrupulosos.
No mundo dos negócios, vejo empresários e líderes titubeando diante de tal dilema. E o escrúpulo é um jogo de braço entre o propósito e a meta. Entenda por propósito fazer algo para alguém, em geral, o cliente. Considere a meta alcançar uma cifra, em geral para a empresa. Não é raro inverter as prioridades e a meta se sobrepor ao propósito, ou seja, o ganho financeiro tornar-se prioridade, em detrimento do que o cliente deveria obter.
Tal inversão, por incrível que pareça, nem é considerada inescrupulosa, diante dos argumentos que justificam a decisão tomada equivocadamente. Afinal, “era o que precisava ser feito”, mesmo em prejuízo do cliente ou desalinhado com o propósito.
A pedra no sapato serve como um alerta sobre os desdobramentos de decisões e ações. Se a escolha for inescrupulosa, avisa que, no decorrer da história, a dor vai ressurgir ainda mais acentuada. E se ela não for tão evidente no nível do aqui, aparecerá sorrateiramente no acolá. E lá permanecerá, importunando não mais o pé, mas a consciência.
Evite, portanto, a cilada, que pode ser fatal!