Se você está num buraco, o melhor que pode fazer é deixar de cavar. Como todo bom conselho, esse também parece não fazer efeito nenhum para quem lá está e não tem tempo nem ouvidos para fazer outra coisa exceto aumentar ainda mais o tamanho da vala, dificultando mais a própria saída.
Não são poucos os que estão assim. Além de não sair, nem ao menos se dão conta de lá estarem.
O buraco é o lugar da falta. Continuar cavando é persistir acreditando que tem menos do que se necessita. O problema da falta é esse: ela captura a nossa atenção, muda a maneira como enxergamos a realidade e se impõe diante de outras possibilidades, sequer aventadas.
De onde vem os pensamentos da falta que se sobrepõem a todos os outros? É claro que recursos limitados como o dinheiro, o tempo e o conhecimento são geradores dessa angústia, mas quando a percepção do que nos falta prevalece sobre o que nos farta, aí está o maior problema.
Economistas são especialistas em faltas e preferem fazer as suas apostas nesse cenário. Não sem motivo, a economia foi definida como a ciência que estuda a escassez. Para quem está no buraco, seus efeitos são perversos fazendo com que a criatura infeliz continue sua escavação. Resolvi denominá-la de “economia de fora”, na tentativa de blindar a “economia de dentro”.
A falta é desagradável e ter menos nos leva à insatisfação e à luta. Mas ter menos não é o mesmo de ser menos. Se o ter sofre influência da “economia de fora”, o ser se nutre da “economia de dentro”, aquela em que a farta prevalece sobre a falta.
Quem lê pode estar pensando: “simples assim? Como faço com o boleto que vence amanhã ou como resolvo o desafio do fluxo de caixa? Não sei como você vai resolver esses problemas prementes, mas sim que continuarão se repetindo ad eternum se continuar metido em um buraco. Deixar de cavar e sair do buraco é a única alternativa para mudar o jogo.
Entenda: o buraco é uma mentalidade. O que nos falta tenta resolver os problemas do bem-estar. Mas como o bem-estar nunca se resolve e, ocupado com ele o tempo todo, deixamos de bem-viver.
O bem-estar depende das motivações do ter e torna-se refém da “economia de fora”. O bem viver depende das motivações do ser e se fortalece com a “economia de dentro”. As motivações diferem, portanto, é mesmo uma questão de mentalidade.
Importante uma ressalva: merecemos tanto o bem-estar quanto o bem viver e é um grande desperdício contentar-se com meia vida cuidando de uma das suas facetas e descuidando da outra. Dentro do buraco, a visão é restrita e não se consegue enxergar outras alternativas. Fora do buraco, o mundo se abre em um universo de possibilidades.
Vai daqui uma dica para sair do buraco: elabore o seu código de nobreza. Trata-se de uma experiência de “economia de dentro” e uma maneira de dar uma trégua à voracidade da “economia de fora”. Simples assim? Não custa experimentar e desfrutar – nem que seja por algumas horas – a vida fora do buraco.
Se deseja ir mais fundo, leia o meu mais recente livro O Código da Nobreza. Em todas as livrarias, a partir dessa semana. Mergulhe e constate!
Excelente provocação Mestre!