Para os antigos gregos, a palavra scholea era sinônimo de lazer, mais tarde compreendido como escola. O tempo livre existia para a missão sublime de aprender e se desenvolver. Os gregos davam o nome de paideia ao processo através do qual se educava o ser humano. Entendiam que os seres só poderiam ser considerados humanos quando se desenvolvessem nesse sentido. Não vinham prontos, portanto.
Infelizmente, o lazer, scholea, se transformou em entretenimento e passou a ser um estimulante poderoso depois da explosão tecnológica. Em comparação a esse novo parâmetro, uma sala de aula tradicional, com seus currículos e professores arcaicos, não consegue mais ser atrativa aos estudantes. Haja estímulo para que as sessões convencionais de aprendizado sejam capazes de superar os estímulos que os jovens têm via internet, redes sociais e games.
Os múltiplos passatempos que estimulam e desafiam os jovens todas as horas do dia chegaram à sua pior versão com o “desafio da baleia azul”. É impressionante até onde os “jogos” de última geração ocupam o vazio e a ausência de um sentido para a vida. Essa última e nefasta criação transforma em presas fáceis os viciados em estímulos extremos, com suas cinquenta tarefas malignas, dentre outros desafios medonhos, como a automutilação e, no último estágio, o suicídio.
Para combater os impulsos externos, sobretudo de natureza tão vil, é fundamental desenvolver impulsos internos. Os externos existem para preencher carências, os internos, para abastecer desejos. É destes que nasce o propósito, algo capaz de oferecer sentido e significado com o dom de superar os cantos de sereia vindos do mundo externo.
O que fazer diante de ameaças tão terríveis e cada vez mais assustadoras?
Recuperar a paideia, o desenvolvimento do caráter moldado por valores virtuosos. E despertar um desejo que extrapole o simples servir a si mesmo, mas sim a alguém ou algo fora de nós.
Vale incluir, também, a oração em que suplicamos para nos livrarmos de shatan que, segundo o hebraico, significa obstáculo ou, ainda, maligno, perverso. E que, sobretudo, sejamos capazes de orar pelas criaturas que estão por trás de inventos tão diabólicos e que trataram de preencher seus próprios e infinitos vazios com a intenção de levar outros para o profundo e sombrio buraco em que se meteram.